Pular para o conteúdo principal

Terry Pratchett e a Cor da Magia



De forma bem humorada, o primeiro livro da série Discworld é, a princípio, um tanto confuso, mas vai ficando mais compreensível ao virar das páginas e, quando menos damos conta, estamos empolgados com as aventuras de Rincewind e Duasflor. O leitor é apresentado a um mundo totalmente novo, sem algum tipo de clichê. E o que torna a escrita de Terry Pratchett agradável é o humor, pois ao descrever sobre como funciona o Discworld e explicar outras coisas relacionadas ao Disco, tende a deixar a leitura de difícil compreensão, já que aqui estamos falando sobre um livro de fantasia. Geralmente os leitores buscam na fantasia uma história nem muito complexa, nem muito rasa. Uma história complexa que não agrada muito alguns fãs do gênero fantasia é a obra fantástica do J. R. R. Tolkien, O Senhor dos Anéis. Descrições longas, informações demasiado... Eu, particularmente, adoro livros assim. Mas há quem não goste.

A Cor da Magia vai por esse caminho, mas o que não deixa a leitura maçante ou arrastada, como alguns dizem, é o humor. Destacaria como um ponto positivo, o maior ponto positivo, do livro ser esse. Claro que li apenas o primeiro livro de uma série, mas como um colega havia me avisado, o primeiro me daria certa confusão, que era para ler outros e depois ler esse primeiro. Mas essa confusão durou apenas algumas páginas. 

O mundo criado pelo Terry é fantasticamente fantástico e bastante original. A sacada do autor de criar personagens-deuses brincando com os personagens-homens, digamos, foi sensacional. Muitos têm essa ideia e até tem um dizer que diz que os deuses jogam com as vidas dos seres humanos. Ironizar e não desrespeitar a religião ou a falta dela também mostra que, nos dias de hoje, o livro – ou toda a série – se apresenta politicamente incorreta. Ponto extra.


E, para concluir, analisando sob outro ponto de vista, temos o otimismo e o pessimismo retratados nas duas personagens principais, Rincewind e Duasflor. Ou a fé e o ceticismo, talvez. O fato é que o mago sempre espera o pior das coisas e das pessoas, nunca acredita que algo dará certo e vive se indagando sobre o sentido da vida e o que há na borda do Disco. Já Duasflor é o oposto, sempre acreditando que tudo dará certo, enxergando o melhor das pessoas e nunca o pior. Talvez seja ingenuidade do turista, ou talvez seja mesmo um modo de vida mais fácil. De sempre ver a vida pelo lado bom. Ou não.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leia o conto "O Gato Preto", de Edgar Allan Poe

Não espero nem peço que acreditem nesta narrativa ao mesmo tempo estranha e despretensiosa que estou a ponto de escrever. Seria realmente doido se esperasse, neste caso em que até mesmo meus sentidos rejeitaram a própria evidência. Todavia, não sou louco e certamente não sonhei o que vou narrar. Mas amanhã morrerei e quero hoje aliviar minha alma. Meu propósito imediato é o de colocar diante do mundo, simplesmente, sucintamente e sem comentários, uma série de eventos nada mais do que domésticos. Através de suas consequências, esses acontecimentos me terrificaram, torturaram e destruíram. Entretanto, não tentarei explicá- los nem justificá-los. Para mim significaram apenas Horror, para muitos parecerão menos terríveis do que góticos ou grotescos. Mais tarde, talvez, algum intelecto surgirá para reduzir minhas fantasmagorias a lugares-comuns – alguma inteligência mais calma, mais lógica, muito menos excitável que a minha; e esta perceberá, nas circunstâncias que descrevo com espanto...

O Cavalo e seu Menino, de C. S. Lewis

O terceiro livro de As Crônicas de Nárnia em ordem cronológica, O Cavalo e seu Menino, narra a história de duas crianças fugindo em dois cavalos falantes. Shasta vive em uma aldeia de pescadores e vive como se fosse um empregado do seu pai ‘adotivo’, Arriche. Quando um tarcãa chega à aldeia e pede para se hospedar na casa de Arriche, este aceita sem hesitar. Com um hóspede nobre, o pescador coloca Shasta para dormir no estábulo junto com o burro de carga, tendo como comida apenas um naco de pão. Arriche não era um pai afetivo, acho que ele nem se considerava pai do menino. Via mesmo ali uma oportunidade de ganhar mais dinheiro, e quando o tarcãa oferece uma quantia por Shasta, ele ver que pode arrancar um bom dinheiro com a venda do menino e assim começam a barganhar um preço pelo garoto. Ao ouvir que o seu ‘pai’ iria lhe vender, o menino decide fugir e ir para o Norte — era o seu grande sonho conhecer o Norte. Ao se dirigir ao cavalo, e sem esperar nada, desejar que o animal fa...

A batalha espiritual em "Este Mundo Tenebroso", de Frank Peretti

Uma narrativa empolgante, original, sem muito clichê, eletrizante e até mesmo de arrepiar.    Em Este Mundo Tenebroso, a cidade de Ashton está sendo alvo de um grande plano. Forças malignas querem tomar a cidade para si no reino espiritual, e uma sociedade secreta, a Sociedade da Percepção Universal, quer que a calma cidade americana seja mais uma de suas propriedades. Frank Peretti conduz a história de forma muito fluida, sem fazer o leitor se perder na narrativa. Ora, temos aqui duas ações: a física e a espiritual. No plano físico, Hank Busche, um homem de oração, sente que algo está acontecendo com a sua cidade. Por ser uma pedra de tropeço, Alf Brummel, o delegado de Ashton e membro da igreja onde Hank pastoreia, faz de tudo para que o temente homem de Deus seja expulso do cargo e da cidade. Já Marshal Hogan, um jornalista que comprou o Clarim, um pequeno jornal de Ashton, descobre muitas coisas que não eram para serem descobertas. Os dois são alvos de Alexander M...