O Guardanapo é o novo papiro.
Foto retirada do Google Imagens. |
O próximo da fila pode ser um jovem, um empresário, um casal
de namorados ou simplesmente uma pessoa que desperta o interesse do atendente
pelo seu jeito desastrado. Aqui o protagonista é inominado, assim como as
outras personagens. A primeira parte do livro é sobre a infância do nosso
protagonista ao lado do pai, que tenta a todo o custo, fazer o filho ser
esforçado na vida. Afinal, já tem treze anos, e ‘no tempo do seu pai’, ele já
fazia várias coisas, foi expulso de casa e etc. A cena entre pai e filho no
supermercado marca para sempre a vida dele. Após alguns anos, quando o pai
parte para outro lugar melhor que esse, ele se lembra desse dia ainda com certa
raiva.
Com a morte do pai, a família tem que se mudar para outra
casa menor. A mãe, com dois filhos para sustentar, vai ter que voltar a
trabalhar como empregada doméstica. A ‘primeira’ tia, a irmã do seu pai, vive
dizendo que o menino tem que trabalhar para ajudar em casa, tem que se mexer,
que foi criado com muito mimo. Ela é aquela velha tia que todos nós temos, que
vive dando lição de moral e constrangendo a todos. A ‘segunda’ tia, irmã da sua
mãe, é mais compreensiva e não pega muito no pé do menino, apesar de achar a
mesma coisa. A mãe também não pressiona o menino, mas sabe que alguma coisa
precisa ser feita. Ela sozinha não pode dar conta, e a sua preocupação é no dia
do reajuste do aluguel, que já vê que não vai poder arcar. CDF, vindo de escola
particular, o protagonista agora tem que estudar em escola pública onde ‘estuda
favelado, pobre e burro’. Apesar de seu receio, que se concretiza após levar
uma surra quando negou a passar cola, o garoto se acostuma ao colégio público
com todas as suas limitações e ensino defasado. Está no primeiro ano e percebe
que os assuntos estão muito atrasados.
★★★★ |
Quando em um dia ele decide procurar um emprego para ajudar
a mãe. Consegue um ‘subemprego’ em uma rede de fast-food internacional, onde
logo se acostuma com a rotina da lanchonete e começa a fazer parte de um grupo.
Sempre fora mais retraído e com o novo emprego, ele vê que sua vida social pode
mudar e conhece novos amigos e o mundo dentro daquela lanchonete. Vê todo tipo
de gente, lida com o gerente de bigode sem problemas, com a treinadora, com o
amigo negro, com o cristão, o poeta e outros. Sente-se feliz, mesmo que para
muitos esse trabalho não seja lá essas coisas. Lá dentro da lanchonete, os funcionários
tem que cumprir o Padrão. Tudo pode acontecer, menos quebrar o Padrão. Ver
colegas entrando e saindo, suspeitas de roubos ou de não adaptar-se, ou
simplesmente por fazer a primeira greve de funcionários da rede de fast-food, que
leva o amigo negro, com espírito revolucionário e anti capitalista sendo
demitido.
“Mas eu prefiro a palavra escrita. Depois de fazer um curso gratuito de datilografia na escola, descobri que máquinas de escrever têm um barulho tão bom que poderia passar horas e horas batucando nas teclas, que dão vida ritmada às ideias ao mesmo tempo que parecem algo terapêutico.”
Com uma narrativa linear, em primeira pessoa, Henrique
Rodrigues publica o seu primeiro romance pela Editora Record. Ambientado na
década de 90, o autor escreve de forma leve e fluida, com personagens
invisíveis ao dia a dia, tensões familiares, dosa bem o humor e aborda alguns
assuntos sutilmente como preconceito, exploração no trabalho e a desigualdade
social. O namoro com a cliente que lê Drummond, tem o
desenvolvimento muito bonito mas acaba com um final trágico. Leitura rápida,
gostosa – todas aquelas batatas, hambúrgueres, me deu água na boca. Misturando
ficção com realidade, realidade com ficção, O Próximo da Fila é um romance
agradável e surpreendente.
Parece um livro muito interessante, é preciso coragem e talento pra criar uma obra sobre uma pessoa comum, anônima. Se o autor for criativo mesmo, dará muito "pano pra manga".
ResponderExcluirGostei da resenha, muito boa.
Alessandro Bruno
www.rascunhocomcafe.com/2015/11/rocky-balboa-nao-se-trata-de-quanto.html
Olá, Alessandro! O livro é realmente muito bom, e diferente. Original. O autor leva o leitor por situações dramáticas e engraçadas, e faz com que os leitores embarquem na sua história, mesmo não sabendo qual o nome do protagonista. Vale a pena a leitura.
ExcluirAbraços!
o livro mais interessante e incrível que já li
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