Pular para o conteúdo principal

O Cavaleiro da Morte, de Bernard Cornwell

“Reputação é honra, mas para obter essa honra o homem deve ficar na parede de escudos, onde a morte campeia.”



No segundo livro de As Crônicas Saxônicas, Uhtred volta para a sua casa depois da batalha de Cynuit, onde derrotara Ubba Lothbrokson. Mas quem levou a fama de ter matado o temido dinamarquês Ubba foi Odda, o Jovem; e Uhtred não gostou nada disso. Ao voltar a Wessex para se encontrar com Alfredo, ele quebra uma lei que nem sabia que existia. Uhtred interrompe uma missa e entra num lugar improvisado de igreja com Bafo de Serpente, e essa foi a sua transgressão. Os soldados da guarda real cercam-no e ali ele sabe que cometeu o erro de entrar com armas na presença do rei. E a punição para quem comete essa transgressão é a morte, mas Alfredo decide humilhá-lo e isso só faz que o ódio que Uhtred nutre pelo rei só aumente.

Mas mesmo odiando Alfredo e o cristianismo, Uhtred, depois de fugir dos dinamarqueses que quebraram a trégua que havia combinado com o rei e invadido Cippanhamm, o destino quis juntar os dois em Æthelingæg, uma região pantanosa. O destino é inexorável. Alfredo estava fugindo dos dinamarqueses com a sua família e um padre, e Uhtred ajuda-os mesmo sem saber que aquelas pessoas é a família real. Uhtred faz um juramento ao rei, que estava enfraquecido, de proteger a sua família e começa a convocar os fyrd dos ealdorman que não tinham desertado para formarem um exército e derrotar Gutrhum e recuperar Wessex. Os dinamarqueses já tinham tomados três reinos, o de Mércia, da Nortúmbria e de Ânglia Oriental. E tomando Wessex, não havia Inglaterra. Os saxões não permitiriam que pagãos tomassem a última esperança de um reino inglês. Deus não permitiria.

Bernard Cornwell tece uma trama cheia de traições, orgulho e esperança. O autor coloca Alfredo, o Grande, como um rei frágil e devoto ao extremo. 

“Mais parecia um padre do que o rei dos saxões do oeste, porque tinha o rosto irritado e pálido de alguém que passa tempo demais longe do sol e debruçado sobre livros, mas havia uma autoridade indubitável em seus olhos.”

Uhtred é violento, orgulhoso e ainda fica indeciso em qual lado ficar: dos pagãos, ou dos cristãos. Ele escolhe a última opção, porque o destino é inexorável. Só nas últimas páginas vemos a arrogância de Uhtred esvaindo-se. As cenas das batalhas são, como todos esperam, incríveis. A descrição da formação da parede de escudos, dos homens marchando e chocando-se parede contra parede é realmente sensacional. Ao ler essas cenas, podemos escutar os escudos chocando-se, os gritos dos homens, o barulho das espadas, o cheiro de sangue e o medo que aqueles homens sentem da morte. O ápice do livro, o momento que realmente me tirou o fôlego, foi o último capítulo, da guerra que leva Alfredo à vitória. A famosa Batalha de Ethandun. Cabeças rolam, literalmente, e um milagre acontece. Pois Guthrum tem mais homens que Alfredo, mas isso não impede que os saxões botem os pagãos para correr.

Teve alguns personagens que me conquistaram, e quando morreram, eu pensei em colocar Cornwell na frente de uma parede de escudos. O destaque desse livro, sem dúvida, foi o padre britânico Pyrlig, que é extremamente sarcástico e totalmente diferente dos padres que já nos foram apresentado. Ele tece comentários sobre as mulheres, que elas são mais poderosas que os homens, e de que quando uma corresse atrás de um homem com uma espada, ele morreria. Isso mostra o papel das mulheres naquele tempo, e creio que nos próximos livros elas vão aparecer mais na trama e exercer um papel de grande importância.

Esse é o verdadeiro dom das mulheres, ser sábias e não são muitos os homens que o têm.

Uma leitura agradabilíssima e empolgante. Juntamente com Toby Clements, Cornwell é o meu favorito quando se trata de romance histórico.

Comentários

  1. O Uhtred é muito inconsequente nesse 2º livro, mas a raiva que eu senti pelo Alfredo foi maior. hauhauhauha

    Leia logo o 3º, é muito bom!

    http://desbravandolivros.blogspot.com.br/2012/08/resenha-o-cavaleiro-da-morte-bernard.html

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Alfredo também me fez sentir um pouco de raiva rs. Agora só vou conseguir ler o terceiro no próximo ano, a lista de livros está enorme! Abraços

      Excluir
    2. Bah, te recomendo fortemente ler o 3º livro antes de dar uma parada. Ele fecha tipo um "ciclo" na vida do Uhtred. Acredite, leia logo, depois pode dar uns meses de folga!! ;)

      Excluir
    3. Vou fazer de tudo para ler o terceiro, quando o assunto é Cornwell você é que manda rs

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Leia o conto "O Gato Preto", de Edgar Allan Poe

Não espero nem peço que acreditem nesta narrativa ao mesmo tempo estranha e despretensiosa que estou a ponto de escrever. Seria realmente doido se esperasse, neste caso em que até mesmo meus sentidos rejeitaram a própria evidência. Todavia, não sou louco e certamente não sonhei o que vou narrar. Mas amanhã morrerei e quero hoje aliviar minha alma. Meu propósito imediato é o de colocar diante do mundo, simplesmente, sucintamente e sem comentários, uma série de eventos nada mais do que domésticos. Através de suas consequências, esses acontecimentos me terrificaram, torturaram e destruíram. Entretanto, não tentarei explicá- los nem justificá-los. Para mim significaram apenas Horror, para muitos parecerão menos terríveis do que góticos ou grotescos. Mais tarde, talvez, algum intelecto surgirá para reduzir minhas fantasmagorias a lugares-comuns – alguma inteligência mais calma, mais lógica, muito menos excitável que a minha; e esta perceberá, nas circunstâncias que descrevo com espanto

O Cavalo e seu Menino, de C. S. Lewis

O terceiro livro de As Crônicas de Nárnia em ordem cronológica, O Cavalo e seu Menino, narra a história de duas crianças fugindo em dois cavalos falantes. Shasta vive em uma aldeia de pescadores e vive como se fosse um empregado do seu pai ‘adotivo’, Arriche. Quando um tarcãa chega à aldeia e pede para se hospedar na casa de Arriche, este aceita sem hesitar. Com um hóspede nobre, o pescador coloca Shasta para dormir no estábulo junto com o burro de carga, tendo como comida apenas um naco de pão. Arriche não era um pai afetivo, acho que ele nem se considerava pai do menino. Via mesmo ali uma oportunidade de ganhar mais dinheiro, e quando o tarcãa oferece uma quantia por Shasta, ele ver que pode arrancar um bom dinheiro com a venda do menino e assim começam a barganhar um preço pelo garoto. Ao ouvir que o seu ‘pai’ iria lhe vender, o menino decide fugir e ir para o Norte — era o seu grande sonho conhecer o Norte. Ao se dirigir ao cavalo, e sem esperar nada, desejar que o animal fa

Três ratos cegos e outros contos, Resenha do Livro

Três ratos cegos Três ratos cegos Veja como eles correm Veja como eles correm Correm atrás da mulher do sitiante Que seus rabinhos cortou com um trinchante Quem terá tido visão tão chocante Como três ratos cegos . Três ratos cegos e outros contos é a mais importante compilação de contos da literatura policial. Agatha Christie escreveu a história que  deu origem a peça teatral mais encenada de todos os tempos 1 . Nesse livro, que traz nove contos maravilhosos, Agatha escreve com maestria as histórias mais incríveis para todos os amantes da literatura policial. O primeiro conto, Três ratos cegos, traz um intrigante caso de assassinato em série. Giles e   Molly se casaram recentemente e se mudaram para o casarão da falecida tia de Molly. Com uma ideia de transformar a enorme casa em hospedaria, ela convence Giles e os dois agora são donos de uma Hospedaria.