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O Tom Ausente de Azul | Resenha do Livro


O Tom Ausente de Azul é um livro encantador. Jennie Erdal dá um toque filosófico ao romance com diálogos sobre a vida e a morte, a felicidade e a tristeza, o ciúme e o amor. Edgar Logan é um tradutor francês que está se mudando para a Escócia a fim de traduzir os ensaios de David Hume, um filósofo, historiador e ensaísta escocês que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. A história é inspirada na obra desse gigante iluminista, e o título do livro se refere à capacidade de reconhecer um tom de azul mesmo sem nunca tê-lo visto, apenas intuindo sua existência a partir de outros tons.

Eddie, como é chamado ao decorrer do enredo, tem uma vida solitária. Não costuma estar com muitas pessoas e acha essa ideia um pouco desconfortável. Ele vai à Escócia para traduzir os ensaios de David Hume, filósofo que ele e o pai tanto admiravam.
Sem pretender deixar marcas, ele acaba se envolvendo na vida conturbada de um casal que está em crise. No primeiro dia que ele chega ao país escocês, ele vai a uma palestra e lá conhece Harry Sanderson. Isso não estava nos seus planos, muito menos se tornar amigo de um filósofo que leciona na universidade onde Eddie tinha se candidatado ao cargo honorário no departamento de filosofia. Desde então sua vida começa a ganhar outro rumo, o qual ele não imaginava. Após conhecer Harry, Eddie foi convidado a jantar na casa dele. Lá ele conheceu a esposa do seu mais recente amigo, Carrie Sanderson. Uma artista linda, que pintava belos quadros e que nada tinha a ver com aquela figura gorda e velha que era Harry.

Harry já conversava com Eddie como se o conhecesse há tempos, o que dificultou mais ainda de Eddie se afastar. Pois por mais estranho, ele também sentia o mesmo por Harry. Os diálogos de Eddie e Harry é tão filosófico e ao mesmo tempo tão deslumbrante que nos fazem ficar lendo eles pela noite inteira. Harry é um cético, que desacredita e caçoa dos filósofos, que perdeu o brilho nos olhos pela filosofia. Seus argumentos são ácidos e bem-humorados, o que faz deste personagem tão próximo de nós, mas ao mesmo tempo distante. Uma hora concordamos com o ceticismo dele, na outro estamos querendo que ele cale a boca. E o mais interessante é que o narrador fala muito pouco na presença de Harry, pois a conversa é sempre mantida por causa dele, como se Eddie não estivesse ali. A relação de Eddie e Harry é de amigos íntimos, e a de Eddie com Carrie é mais de admiração, ele nutre por ela alguma paixão que não sabemos até que ponto isso poderá levar, e nem se essa paixão existe.

A autora criou personagens complexos, todos levam consigo a marca do sofrimento iminente ao ser-humano, e isso faz deles mais humanos e mais próximos de nós. É como se estivéssemos lendo algo sobre pessoas que conhecêssemos, e isso é muito bom. Identifiquei-me imediatamente com Eddie, não vou me estender nesse assunto, pois seria um tanto pessoal demais. Jennie Erdal despiu os personagens ao desenvolver da história, mostrando suas marcas na alma que os fazem desacreditar em algo como a felicidade, que os fazem se perguntar sobre a vida e a morte. E vemos que Eddie, Carrie, Harry, Alfie e outros personagens tem um pouco de nós, um pouco de nossas dúvidas, um pouco de nossa tristeza, um pouco da nossa vida. É um livro que nos fazem enxergar esse tom ausente de azul.

Mais Informações:

Título: O Tom Ausente de Azul
Autor: Jennie Erdal
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 378
Avaliação: 
Sinopse: Viajando a Edimburgo a trabalho, o francês Edgar Logan prevê uma temporada de iluminação e tranquilidade. Já na Escócia, Edgar conhece por acaso Harry Sanderson e sua cativante esposa, a artista Carrie. A partir daí, sua vida meticulosa passa por um turbilhão, e a viagem que se pretendia estritamente profissional ganha uma carga dramática à qual Edgar nunca se vira acostumado — na verdade, sempre evitara.

Atraído pelo casamento conturbado dos Sanderson, Edgar deve enfrentar seus medos mais profundos e seu crescente interesse pela encantadora Carrie. Quanto mais ele descobre os muitos segredos dessa família, mais a viagem ganha ares de thriller. Edgar não é mais o mesmo homem: o turbilhão (do qual ele não sabe quando nem como sairá) já lhe deixou marcas indeléveis. Logo nele, que parece querer passar pela vida sem deixar assinatura.
Tradutor: Pierre Menard

Comentários

  1. A premissa parece ser bem interessante e esse trabalho de capa está fantástico. Eu adoro livros que dão um foco em arte, seja escrita ou visual; esse parece ter uma visão interessante. Aliás, ótima resenha .

    www.itgeekgirls.wordpress.com

    ResponderExcluir
  2. Oi!
    Nunca li livros muito filosóficos e que dão atenção a arte, mas esse surpreendentemente me chamou a atenção.
    Gostei do fato de a autora trazer tantos temas bons para serem explorados, para o livro. Isso certamente só deve enriquecer ainda mais a história!

    Beijos
    http://ummundochamadolivros.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Olá!
    Não conhecia o livro. a história me pareceu bem legal e saber que os personagens são mais humanos me deixa com mais vontade de conhecer a história.
    Adorei a resenha.
    Beijinhos!
    http://eraumavezolivro.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  4. Olá, parabéns pela resenha.
    Gostei muito da premissa, principalmente por ter esse ar filosófico. Só não leria no momento por não ser o ideal, mas com certeza irei lê-lo um dia.
    Beijos e sucesso.

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