Roger Scruton defende em “A alma do mundo” a experiência do sagrado frente aos ateísmos contemporâneos
Um dos mais respeitados nomes do conservadorismo britânico, Roger Scruton evita defender a prática ou doutrina de uma fé em especial. No entanto, em seu novo livro, “A alma do mundo”, o filósofo lança seu olhar sobre uma visão religiosa do mundo, que, a seu ver, não pode ser captada pelas lentes dos materialistas e dos naturalistas.
Longe de apresentar uma defesa da existência de Deus, Scruton argumenta que, independentemente do significado evolucionista que possa ser atribuído à crença religiosa e seu papel na seleção natural, há uma função fundamental que ela representa, referente à manutenção da vida humana:
“As religiões dão foco e ampliam o senso moral; elas cercam aqueles aspectos da vida nas quais as responsabilidades pessoais estão enraizadas, notavelmente, o sexo, a família, o território e a lei. Elas alimentam as emoções distintamente humanas, como esperança e caridade, que nos elevam acima dos motivos que regem a vida dos outros animais e nos levam a viver pela cultura, não pelo instinto”, conclui.
O autor afirma que as discussões atualmente em voga sobre as crenças religiosas estão relacionadas ao confronto entre o cristianismo e a ciência moderna e aos ataques terroristas do 11 de setembro, que aumentaram a tensão entre o Islã e o mundo ocidental. No entanto, Scruton reforça que os embates têm origens diferentes. Sendo o primeiro intelectual e o segundo emocional.
A ALMA DO MUNDO
(The soul of the world)
De Roger Scruton
Tradução: Martim Vasques da Cunha
238 páginas
R$ 44,90
Editora Record
(Grupo Editorial Record)
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“A alma do mundo” propõe uma reflexão sobre a importância do sagrado no mundo e o que seu esvaziamento pode significar.
Trecho:
“Se há alguma mensagem a ser extraída dos meus raciocínios é que a ideia de salvação — de uma relação correta com o criador — precisa aceitar a morte, no sentido de que, diante dela, encontramos o nosso criador, a quem devemos prestar contas das nossas falhas. Retornamos ao lugar de onde surgimos, à espera de sermos bem recebidos ali. Este é um pensamento místico e não há como traduzi-lo no idioma da ciência natural, que fala do antes e do depois, não sobre o tempo e sobre a eternidade. A religião, tal como eu a considero, não descreve o mundo natural, mas o Lebenswelt, o mundo dos sujeitos, com o uso de alegorias e de mitos para nos lembrar, no nosso nível mais profundo, quem e o que somos nós. E Deus é o sujeito que tudo conhece e que nos recepciona assim que atravessarmos para o outro domínio, além do véu da natureza. Abordar a morte dessa maneira é, portanto, se aproximar de Deus: nos tornamos, por meio das nossas obras de amor e de sacrifício, uma parte da ordem eterna; realizamos a ‘travessia’ para aquele outro lugar, para que a morte não se torne mais uma ameaça para nós. A vida da oração nos resgata da Queda e nos prepara para uma morte que podemos significativamente ver como uma redenção, pois ela nos une à alma do mundo.”
Roger Scruton foi professor de Estética na Birkbeck College, Londres, e professor da Universidade de Boston. Escreve regularmente para The Times, The Telegraph e The Spectator. É auto de diversos livros, entre eles, Como ser um conservador, também publicado pela Record.
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