Eça de Queiros é um daqueles autores em que os
estudantes não aguentavam ler uma página sequer. Não porque fosse ruim, mas sim
por causa da obrigatoriedade. Temos muitos problemas com os autores de língua portuguesa
exatamente por culpa do nosso ensino que está, há muito, ultrapassado em nosso
país. Mas lendo os Dez contos de Eça de Queiros [José Olympio, 256 pgs R$39,90] fiquei encantado com aquelas
narrativas fluidas, interessantíssimas e até mesmo sublime. Em alguns contos,
como o Civilização, podemos perceber o quanto é atemporal. este conto em
especial fala sobre os perigos que a civilização tem para os homens, pois esta
em vez de fazê-lo feliz, faze-o triste e sem ter prazer na vida mesmo tendo
acesso às mais variadas novas tecnologias. Jacinto, amigo do narrador deste
conto, era um homem que tinha tudo e nada lhe faltava: saúde, amigos, riquezas.
Estava envolto das mais recentes inovações, tinha para si uma imensa
biblioteca, comidas finas, tapetes macios, produtos dos mais variados para cuidar
da sua beleza e não lhe faltava os amigos. Mas, com tudo isto, Jacinto olhava
para a vida com pessimismo – o que o narrador ressalta ao dizer que as leituras
do amigo que mais lhe agradava era Schopenhauer e Eclesiastes. Este narrador,
muitíssimo amigo de Jacinto, ficava se perguntando o que acontecia com aquela
alma. Tinha tudo, mas ainda assim parecia que lhe faltava algo. O que seria?
Dentre os dez contos, que são boníssimos, destaco
este Civilização, No moinho, Frei Genebro, O suave milagre e Singularidades de uma rapariga loura. Em
todos eles há aqueles elementos que são característicos de todos os tempos,
mesmo descrevendo uma época tão distante em um lugar além-mar. Eça tem uma
escrita envolvente e transforma o mais relutante leitor dos clássicos portugueses
em um grande admirador e leitor assíduo. Se as nossas escolas optassem por
deixar que os alunos lessem estes livros por livre espontânea vontade, sem
pressão alguma para obter pontos ou para poder passar em algum vestibular, haveria
mais leitores amantes da boa literatura. Quantos não desagradaram da literatura
por alguém tê-la imposto sobre si como um fardo pesado a ser carregado? Os últimos
anos na educação secundária são os piores, pois nos vemos entre o passar num
vestibular e o não passar. O que seria uma ocupação prazerosa – a leitura de um
livro – torna-se em algo maçante, torturante. Pois este livro com os contos
escolhidos de Eça de Queiros é um livro a ser indicado para todos aqueles que
passaram por algo semelhante.
A edição da José Olympio está belíssima, com um
acabamento luxuoso na parte interna da capa. Se alguém ainda não leu nenhuma
obra desse autor clássico, sugiro começar por este livro mais leve [pois são
contos, afinal] e depois se aventurar em Os Maias e O Crime do Padre Amaro. Não
é uma sugestão de alguém que entende do assunto, mas sim de um leitor para um
leitor comum.
Um escritor genial. Li inúmeras vezes todos esses contos maravilhosos. Li também o excelente O Crime do Padre Amaro (quatro vezes), O Primo Basílio (duas vezes) , A Relíquia, Os Maias... Um autor digno de nota.
ResponderExcluirSim! Infelizmente tinha certo preconceito com o autor, pois o período escolar obriga os alunos a lerem este como tantos outros. Mas depois que amadureci, achei incrível e quero ler as demais obras do Eça. Obrigado pelo comentário, Enzo!
Excluir