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Como me tornei um leitor

A leitura é um prazer quase de outro mundo. Quando descobri o mundo dos livros, já muito tarde, eu estava prestes a ingressar no ensino médio. Lembro-me de antes disso ler alguns livros, mas ainda não era fascinado pela leitura. Ao tentar buscar onde esse desejo apareceu pela primeira vez, minha memória falha. Algumas cenas do Capitão Gancho vêm em minha mente, mas é algo totalmente desconexo. O que lembro, e claramente bem, é do livro Transilvânia, um livro que li todo e que me transportou, magicamente, para outro mundo — o da história contada pela autora, que é brasileira. Não o quis devolver para a biblioteca da escola, mas fui obrigado. Foi o primeiro contato com a literatura que eu tive, e a primeira vez que me senti completamente arrebatado para outro mundo. 
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Como meus pais não incentivavam a leitura em casa, passou-se um longo tempo até que eu retornasse para o fantástico mundo dos livros. Dessa vez, Harry Potter. Foi aí que me tornei um leitor frenético, e como meus pais não tinham condições para comprar os livros — esses eram aqueles produtos que eram dispensáveis, considerados como um mero passatempo (e caro) – corri atrás das histórias pela internet. Até hoje me lembro da aflição quando, baixado um livro no Wattpad, ele pulava capítulos — pois o meu celular era bem fraquinho — e eu tinha que concluir a leitura sem saber de vários acontecimentos.
Pois bem, Harry Potter me trouxe para a literatura, assim como fez com milhares (milhões) de jovens ao redor do mundo. Saindo das histórias infanto-juvenis, com magias e muitas aventuras, comecei a ler romances de autores mais maduros. Gostei, e como vocês devem se lembrar, eu comecei tarde nesse mundo. Quantos livros poderia ter lido desde a infância? Faço esta pergunta o tempo todo. Depois do Wattpad, descobri o app Kindle. Quão feliz fiquei com essa descoberta! 
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E como ainda não tinha lá muitas condições para comprar livros todos os meses, fui lendo o que estava ao meu alcance (o que estava disponível para baixar). Por isso acho que toda essa discussão de que baixar livros é um ato criminoso tende ao extremismo, pois se todos dependessem da compra de livros para ler, os que não têm condições para gastar com livros iriam continuar na estatística de que tanto nos envergonhamos.
A literatura proporciona liberdade a todo ser humano que entra em contato com ela. Mundos distantes, mágicos, com criaturas fantásticas, meninos e meninas corajosos que enfrentam o mal e vencem, tudo isso nos encoraja a viver no mundo real, não-mágico e sem criaturas fantásticas. Os autores tornam-se os nossos amigos, conhecedores de nós mesmos, mais íntimos que os nossos irmãos. Conhecemos outros países, lidamos com problemas que é do ser humano, e que nos ajudam a lidar com esses mesmos problemas quando acontecem conosco. 
Uma vida sem leitura, sem a literatura, é uma vida sem cor, sem magia. Nós, leitores, vivemos no passado, presente e futuro; em mundos desconhecidos, conhecidos, mundos até então inimagináveis. Viajamos para fora da terra, enfrentamos ameaças alienígenas, nos deparamos com dragões — e, o mais importante, aprendemos a lidar com o mal e a vencê-lo. Descobrimos que mesmo que sejamos pessoas comuns, podemos enfrentar criaturas incomuns e fantásticas, o que de certo modo é apenas fantasia, mas acaba nos ajudando a enfrentar os dragões da vida.
O Sol é para Todos, O Encontro Marcado, Harry Potter, As Crônicas de Nárnia, Percy Jackson, Sherlock Holmes, e tantos e tantos outros livros e personagens são tão íntimos e tão próximos que sempre o mantemos a salvo, próximo a nós, em um lugar tão seguro e tão prazeroso de se estar, que é o nosso lar — e também o nosso quarto. Toquei em assuntos que, talvez, eu venha a escrever em outras ocasiões. Mas este texto é para todos os que amam a literatura e que sabem que nunca estão sozinhos ao ler um livro.

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