Pular para o conteúdo principal

O Diário do Diabo, de Robert K. Wittman & David Kinney


Durante o julgamento de Nuremberg, o diário de Alfred Rosenberg havia sumido. Muitos anos depois do julgamento, começa a caça pelo diário de um dos homens mais influentes e mais íntimos de Hitler. O livro narra a busca pelo objeto valioso, sob o ponto de vista histórico, de forma romanceada e é quase uma aventura essa busca. Robert Kempner, um advogado que atuou incansavelmente para que os criminosos nazistas fossem condenadas e não ficassem soltos e impune, pegou o diário e nunca mais devolveu. Assim como tantos outros documentos importantes sobre o período nazista, que estava sob a responsabilidade do governo americano. Depois de morrer, começa uma pequena batalha para dois homens ter acesso aos documentos armazenados em muitas caixas numa casa antiga de Kempner. Um deles, um advogado oportunista, e o outro, arquivista do Museu do Holocausto. Depois de muitas manobras, chantagens e incredulidade – pois ninguém tinha visto tal diário, nem sabia se ele existia – a busca tem um fim com uma operação de agentes federais americanos. Tudo muito cinematográfico, eu sei.

De acordo com as palavras dos líderes do partido, o relatório de Kempner argumentava que o nacional-socialismo era mais do que uma organização política; era um culto radical “altamente centralizado”. Esperava-se que os seus membros fossem uma “ferramenta obediente” e falassem a uma só voz. Os nazistas pretendiam substituir a república por uma ditadura. Embora alegassem trabalhar para promover mudanças internas mediante a eleição de deputados, na verdade eram revolucionários que nunca renunciaram à ideia de tomar o poder pela força.

O conteúdo do diário traz memórias do ideólogo e suas desconfianças e disputas com os rivais dentro do próprio partido. Alguns o chamavam de pedante, outros de louco e perigoso. Suas ideias conspiratórias e antissemitas sobre uma sociedade secreta judaica que, segundo ele, queria controlar o mundo ajudou o partido nacional-socialista a ganhar força. Um dos erros gravíssimos do livro é associar as palavras direita e socialismo como se fossem parte de um único lado. Como se pode ser de direita e socialista? Como alguém pode ser de direita e revolucionário ao mesmo tempo? Talvez porque o nazismo odiava o “bolchevismo judeu” e queria exterminar os comunistas da Europa? O livro, apesar de ser bom, tenta colocar a direita como a única culpada do nazismo – essa ideia tão difundida entre os comunistas – e pinta uma esquerda vítima de algo pior do que os terrores da URSS. O leitor que não se interessa pela política, vai terminar a leitura do livro odiando tudo o que se chama de direita. Não estou isentando-a por estar desse lado do espectro político, mas por não ser condizente com os fatos históricos.

Adolf Hitler e Alfred Rosenberg tinham muito em comum. Embora tenham crescido fora da Alemanha, os dois eram igualmente fascinados pelo passado miticamente heroico do país. Eram jovens quando perderam os pais. Ambos estavam mais interessados em desenhar, ler e sonhar acordados do que em seguir carreira na arquitetura. Na juventude, recorreram às sopas gratuitas para encher os estômagos vazios. Quando se encontraram, não demorou muito para descobrirem que estavam de acordo quanto ao que consideravam os principais problemas da época: o efeito prejudicial das igrejas, o perigo do comunismo e a ameaça dos judeus.


Lemos sobre como Rosenberg, que não era em nada ariano, conheceu o jovem Hitler e a primeira tentativa do grupo nazista tomar o poder. Os absurdos cometidos contra os judeus e qualquer um que se mostrasse opositor ao nazismo são revoltantes. Ironia ou não, tanto Rosenberg como Hitler trabalharam para judeus enquanto não passavam de figuras anônimas. O delírio de uma raça superior tomou a mente desses homens e levou a um genocídio que só perde em números para o comunismo. O leitor mais curioso e estudioso do tema, assim como eu sou, não poderá ler o diário de Rosenberg completo - uma pena. Este livro contextualiza trechos do diário e explica os acontecimentos com o auxílio de historiadores diversos. Para aqueles que gostam de História, o livro é bastante interessante para entender um pouco sobre o que se passava na mente de um homem que decidiu dar uma Solução Final ao povo judeu. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leia o conto "O Gato Preto", de Edgar Allan Poe

Não espero nem peço que acreditem nesta narrativa ao mesmo tempo estranha e despretensiosa que estou a ponto de escrever. Seria realmente doido se esperasse, neste caso em que até mesmo meus sentidos rejeitaram a própria evidência. Todavia, não sou louco e certamente não sonhei o que vou narrar. Mas amanhã morrerei e quero hoje aliviar minha alma. Meu propósito imediato é o de colocar diante do mundo, simplesmente, sucintamente e sem comentários, uma série de eventos nada mais do que domésticos. Através de suas consequências, esses acontecimentos me terrificaram, torturaram e destruíram. Entretanto, não tentarei explicá- los nem justificá-los. Para mim significaram apenas Horror, para muitos parecerão menos terríveis do que góticos ou grotescos. Mais tarde, talvez, algum intelecto surgirá para reduzir minhas fantasmagorias a lugares-comuns – alguma inteligência mais calma, mais lógica, muito menos excitável que a minha; e esta perceberá, nas circunstâncias que descrevo com espanto...

O Cavalo e seu Menino, de C. S. Lewis

O terceiro livro de As Crônicas de Nárnia em ordem cronológica, O Cavalo e seu Menino, narra a história de duas crianças fugindo em dois cavalos falantes. Shasta vive em uma aldeia de pescadores e vive como se fosse um empregado do seu pai ‘adotivo’, Arriche. Quando um tarcãa chega à aldeia e pede para se hospedar na casa de Arriche, este aceita sem hesitar. Com um hóspede nobre, o pescador coloca Shasta para dormir no estábulo junto com o burro de carga, tendo como comida apenas um naco de pão. Arriche não era um pai afetivo, acho que ele nem se considerava pai do menino. Via mesmo ali uma oportunidade de ganhar mais dinheiro, e quando o tarcãa oferece uma quantia por Shasta, ele ver que pode arrancar um bom dinheiro com a venda do menino e assim começam a barganhar um preço pelo garoto. Ao ouvir que o seu ‘pai’ iria lhe vender, o menino decide fugir e ir para o Norte — era o seu grande sonho conhecer o Norte. Ao se dirigir ao cavalo, e sem esperar nada, desejar que o animal fa...

A batalha espiritual em "Este Mundo Tenebroso", de Frank Peretti

Uma narrativa empolgante, original, sem muito clichê, eletrizante e até mesmo de arrepiar.    Em Este Mundo Tenebroso, a cidade de Ashton está sendo alvo de um grande plano. Forças malignas querem tomar a cidade para si no reino espiritual, e uma sociedade secreta, a Sociedade da Percepção Universal, quer que a calma cidade americana seja mais uma de suas propriedades. Frank Peretti conduz a história de forma muito fluida, sem fazer o leitor se perder na narrativa. Ora, temos aqui duas ações: a física e a espiritual. No plano físico, Hank Busche, um homem de oração, sente que algo está acontecendo com a sua cidade. Por ser uma pedra de tropeço, Alf Brummel, o delegado de Ashton e membro da igreja onde Hank pastoreia, faz de tudo para que o temente homem de Deus seja expulso do cargo e da cidade. Já Marshal Hogan, um jornalista que comprou o Clarim, um pequeno jornal de Ashton, descobre muitas coisas que não eram para serem descobertas. Os dois são alvos de Alexander M...