Um
romance policial de assunto histórico, segundo o próprio escritor.
Rio de Janeiro, século XIX. Um crime não solucionado, e um desfecho
um pouco óbvio. Em A Hipótese Humana, o quarto livro do compêndio
mítico sobre os séculos da história do Rio. De fato, mítico. Não
li os três livros anteriores, mas neste o mito está bem presente.
Assim como as crenças e rituais místicos daquela época. Domitila,
filha do coronel Francisco Eugênio, é encontrada morta em seu
quarto. Mas sabemos que Tito Gualberto lá esteve antes do
assassinato (?) da sua prima, e amante. O coronel escuta barulhos
vindos do quarto provisório da filha, situado no térreo ao lado da
biblioteca, e adentra-o tarde demais, pois só vê um vulto além da
janela e dispara contra quem quer que seja. O detetive, ou
investigador, como você queira chamar, é o próprio Tito, amante da
vítima. Suspeita primeiramente do marido de Domitila, Zé Higino.
Mas tudo parece muito confuso, e o caso mostra ser bem mais complexo
do que se imagina.
O
narrador, não se sabe quem, mas que sabe de tudo e conhece a todos,
explica ao leitor fatos e curiosidades de um Rio há muito distante.
Discorre sobre as diferenças entre os escravos, como, por exemplo,
suas religiões, fraternidades e nacionalidades. Conta um pouco sobre
a história dos principais locais da trama, além de falar sobre
algumas lendas e mitos daquela época. Voltando ao investigador do
crime, Tito trabalha para o que o hoje nós chamamos de serviço
secreto, mas da Corte – pois em 1854 a monarquia ainda reinava. Era
um capoeira, tinha espírito de serpente. Sortudo, mas não tanto. O
leitor perceberá certa ironia quando o crime for solucionado e o
assassino for, implicitamente, descoberto. Não darei mais detalhes,
embora queira muito, pois seria acusado de um crime quase mortal: o
do spoiler.
![]() |
★★★★ |
Imaginar
uma cidade como o Rio, se bem que podemos imaginar o Brasil,
tranquilo e sem essa espantosa violência de hoje é quase
impossível. Mas ao ler este romance policial, lemos um retrato de um
Brasil onde a violência não massacrava o seu povo, nem roubara a sua
liberdade.
A verdadeira onda criminal que
engolfava o Rio de Janeiro, os crimes que ocupavam as autoridades do
tempo eram aqueles cometidos pelos famigerados capoeiras. Embora
provocassem grande pânico, deixando na cidade uma sensação de
insegurança, era uma criminalidade essencialmente endógena:
capoeiras vitimavam capoeiras, membros de grupos rivais, durante
conflitos de rua, do que resultavam alguns feridos e uma ou outra
morte ocasional. […] o nível de violência era baixo para uma
cidade já tão desenvolvida como a então capital do Império. […]
a cada mil prisões efetuadas naquela década, apenas uma envolvia
homicídio – e somente seis os casos de assalto à mão armada.
Uma
leitura agradável e instigante. O primeiro livro do Alberto Mussa
que leio, e que acho muito bom. Uma certa figura polêmica declarou
que ele era o único escritor brasileiro vivo. Se eu concordo, não
sei. Mas quem sou eu? Apenas um leigo escrevendo sobre minhas
experiências literárias. É o que tenho a oferecer, pois ainda
tenho muito o que aprender.
Comentários
Postar um comentário