O
Brasil, nos últimos anos, vive um momento de acalorado debate
político. E quando se trata de política, logo pensamos em
ideologias. Esquerda versus direita, comunismo versus liberalismo. E
este livro bem escrito e pesquisado, traça um perfil sobre não a
figura em si de Stalin, mas sobre como ele governou com mão de ferro
– e cortina também – a URSS e todos os países satélites da
mãe-pátria. É um livro importante para todos aqueles que, antes de
sair bradando suas opiniões nas redes sociais, gostam de pesquisar
um pouco para poder debater certos assuntos com mais propriedade.
Ninguém duvida de que o nazismo foi uma ideologia sanguinária e
desumana, que ceifou milhões de vidas inocentes por uma supremacia
racial que o seu líder, Adolf Hitler, queria implantar na Alemanha,
de início, e depois em toda a Europa. Já quando se trata do
comunismo, vemos pessoas que defendem essa ideologia apaixonadamente
e romantiza um período tão triste da História da humanidade. Que
ninguém tenha dúvidas de que a ideologia comunista foi a
responsável por matar mais pessoas, e não alguma soma abstrata, do
que o nazismo. Em “A maldição de Stalin” lemos que o líder
soviético nutria certos sentimentos pela figura de Hitler, pois
pensava que ele seria uma peça chave para a grande causa
revolucionária, pois seria ele e seu exército que enfrentaria as
forças capitalistas e imperialistas, e assim permitiria que a URSS,
enfim, veria seus inimigos derrotados e logo estariam prontos para
transformar o mundo em um novo mundo, comunista.
As
primeiras páginas fazem uma rápida introdução sobre quem era
Josef Vissarionovitch Djugashvili, “um sujeito problemático,
ativista de sindicatos, marxista renegado” que logo cairia nas
graças e seria o favorito de Vladimir Lenin. Seu nome de guerra era
“Stalin”, que significava Homem de Aço, algo que já antecedia o
modus operandi do ditador. Sua experiência em incitar greves e
participar de atos terroristas, e até de execuções de inimigos, o
ajudaria a lidar com os problemas que enfrentaria como chefe do
Kremlim. Stalin era seguidor escrupuloso dos ensinamentos de Lenin, o
que desmantela o argumento de alguns comunistas modernos de que as ações
de Stalin são únicas e exclusivamente de Stalin; ou seja, Lenin era
um líder que não tinha ligação com o Stalin ditador, sua “cria”.
Muitos socialistas revisionistas repugnam Stalin, mas idolatra Lenin,
sendo que os dois são produto de um mesmo pensamento ideológico,
sendo que este último não fez o que o seu discípulo fez porque
logo morreu, dando a Stalin o poder.
Depois
de abordar um pouco sobre a vida pessoal do ditador, Robert Gellately
relata como se deu o processo da revolução stalinista e prossegue,
com uma escrita de tirar o fôlego, relatando os pormenores das ações
truculentas e desonestas para impor, de cima para baixo, uma forma
comunista de governar. Tribunais foram criados para julgar aqueles
que eram considerados traidores, o que resultava em execuções em
praças públicas; fazendas coletivas eram organizadas, não antes de
expulsarem os proprietários; uma política de expropriação nos
campos fora tomada, e qualquer traço capitalista era esmagado, pois
os camponeses preferiam vender os cerais para os comerciantes
particulares ao invés de dar para o Estado. Com essa política de
expropriação, melhor dizendo, de exploração dos camponeses – a
ironia aqui era a de que ele estava lutando a favor dos camponeses –,
seguiu-se um evento desumano e diabólico. Milhares morreram por
inanição, quando não eram executadas. Daí o leitor já tem uma
dimensão do que um governo comunista seria capaz, pois já em seus
primeiros passos, o terror já fora posto em prática. Alguns trechos
são de cortar o coração, como este abaixo.
A fome, contudo, resultou em
parte de ações do regime comunista, que ainda exercia a política
da miséria humana. Na Moldávia, por exemplo, o governo provocou a
fome pelas técnicas de requisição de grãos de que foram alvo os
camponeses supostamente ricos, na eterna luta contra os “kulaks”.
Exatamente naquela região, pelo menos 115 mil camponeses morreram
naquele período “de inanição e doenças correlatas”.
Stalin
se recusava a enfrentar tal problema, ou melhor, não se importava no
fato de que crianças, idosos, homens e mulheres estavam morrendo de
fome. O que importava, para aquele que se dizia lutar contra os
imperialista que exploravam o proletariado, era os grãos que
abastecia o Kremlim e outros países satélites. Teorias lindas,
práticas terroristas. Era assim que Stalin agia, e todas os regimes
comunistas ao redor do mundo, pois se inspiravam no modelo soviético.
A
campanha de coletivização do campo, logo quando a ditadura
comunista-stalinista estava sendo implantada, foi quase como uma
guerra. Estima-se que as mortes decorrentes de violência, inanição
ou de doenças relacionadas com a fome foram entre 4 e 8 milhões. Só
as primeiras 50 páginas do livro deixa o leitor estarrecido com a
brutalidade e a violência perpetrados contra o próprio povo. Mas
esses números são apenas em tempos de relativa paz, pois Hitler
ainda não tinha invadido a URSS e traído o amigo de causa Stalin.
Ele, que em relação a Hitler era ingênuo, surpreendeu-se e quase
foi derrotado, mas os capitalistas inimigos o ajudaram a defender a
“mãe-pátria” e expurgar os nazistas, sob o custo de mais mortos
e cidades completamente destruídas. Não é verdade o que muito se
alega por aí, de que os comunistas livraram o mundo dos nazistas.
Sem a ajuda do Ocidente, o grande inimigo do ditador comunista, a
URSS teria sido subjugada pelos nazistas. Bem, livrou-se de um mal,
mas criou-se um mal ainda pior: os comunistas, após a ajuda e o
sucesso contra os nazistas, tornaram-se mais ousados e brincava com
os Aliados, mentindo e fingindo afetação contra alguém que
desconfiasse das intenções do ditador.
Winston
Churchill e Franklin D. Roosevelt trataram Stalin como um grande
leviano, e o primeiro até nutria certa simpatia pelo ditador, o que
logo se mostraria como uma atitude totalmente errada. Os dois líderes
do Ocidente não viam, ou não queriam ver, a real ameaça que a URSS
representava para as liberdades individuais e direitos dos
indivíduos. Mas essa relação dos Três Grandes era mais complexa
do que se imagina. Estupros, assassinatos de crianças e idosos,
deportações forçadas, inanição, antissemitismo e um latente ódio
ao Ocidente permeou as ações e pensamentos daqueles comunistas, e de
uma forma mais extrema e violenta ainda sob o jugo do governo
stalinista. A maldição de Stalin esmagou seres humanos, feriu a
dignidade de cada ser como indivíduo, separou e destruiu família,
encarnou o próprio mal e matou bem mais que o nazismo. Só lendo o
livro para poder compreender o por que a Polônia criminalizou a
apologia ao comunismo, assim como a Moldávia, Lituânia e Geórgia.
E assim como Hitler acreditava na pureza da raça, Stalin tinha o
mesmo pensamento. Talvez se Hitler não odiasse tanto os judeus
bolcheviques, os dois teriam juntado forças e prosseguido com a
causa revolucionária lado a lado.
As primeiras ondas de soldados
vindos da guerra foram aplaudidas e reintegradas na sociedade, pelos
menos se voltassem inteiros. Muitos deles se tornaram comunistas
fanáticos, mas alguns questionaram o sistema depois da relativa
prosperidade que tinham testemunhado no exterior. Houve veteranos de
guerra que criticaram, e alguns – temendo uma guerra contra os
Estados Unidos e a Inglaterra – ousaram dizer, “Foi um erro não
destruirmos os “aliados” após a queda de Berlim”. A maior
parte retornou para a pobreza do interior. O Dia da Vitória foi
decretado feriado, até que Stalin entendeu que havia pouco a ganhar
focando no passado e, em 1947, decidiu abolir a celebração.
Desencorajou seus generais a escreverem memórias, em parte porque
preferia saturar o povo com discursos públicos com ataques aos novos
inimigos na Guerra Fria.
Aos estimados 2,75 milhões de
inválidos da União Soviética foram concedidas irrisórias pensões
e muitos tiveram que recorrer à mendicância ou ao furto de cigarros
nos mercados. Por volta de 1947, Stalin deu um basta e ordenou a
retirada de todos os mendigos das ruas.
Relembrar
para não esquecer. Para que não nos deixemos cair no canto da seria
comunista e passar por situações semelhantes. Pegando alguns
discursos dos comunistas atuais e fazendo um contraste com os antigos
comunistas, entendemos aquela máxima atribuída a Lenin: “Xingue-os
do que você é, acuse-os do que você faz”.
Grande STALIN
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