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O animal mais perigoso de todos, de Gary L. Stewart


O relato de Gary L. Stewart à procura da sua identidade é surpreendente. Quando a sua mãe biológica entra em contato com seus pais adotivos, estes ficam um pouco apreensivos, pois tinham medo de que o filho sofresse nesse processo desgastante. Ao conhecer Judy Gilford, Gary começa a compreender um pouco do seu passado, e fica mais aliviado por saber que não foi abandonado como se fosse uma coisa qualquer, e não como um pequeno e frágil ser humano. Mas o que ele não esperaria – quem esperaria? – era que seus pais biológicos eram emocionalmente desestruturados e o que ele pensava saber não chegaria aos pés da dura e cruel realidade.

Conforme vai conhecendo e se relacionando melhor com a mãe biológica, tentando recuperar o tempo perdido, Gary quer saber a identidade do pai biológico. Judy alerta de que seria melhor deixar essa busca de lado – pois iria se decepcionar. Mas Gary insiste, e com toda a força e coragem que tem, vai juntando todas as pistas sobre o pai. O que acabara descobrindo deixaria qualquer um louco: Earl Van Best Jr., o homem responsável por trazer Gary ao mundo, era o assassino do Zodíaco. Como lidar com esse fato terrível sobre o seu passado e o seu pai? Ele era filho de um assassino em série que sacudiu e assombrou os EUA nas décadas de 60 e 70.



O livo relata, em forma de romance, como tudo começou. “O romance da sorveteria” narra como Earl Van, de 27 anos, se apaixona por Judy Gilford, uma garota de 14 anos. Ele a sequestrou, casou com a adolescente e tiveram um filho. A sucessão dos fatos leva Van à prisão alguma vezes, e a separação de Judy desperta em seu coração um ódio feroz e mortal. Sua maneira de se vingar da menina que o abandonou é assassinando garotas que tinham semelhanças com Judy. Os assassinatos em série ganharam popularidade quando ele começou a enviar cartas para os jornais locais, detalhando os motivos de cada morte que ele cometera. Mas não somente isso, o que elevou o assassino do Zodíaco a uma espécie de subcelebridade maligna foram os códigos cifradas que enviava junto às cartas. Por anos e anos, amadores e profissionais tentaram decifrar esses códigos com o objetivo de revelar a identidade do Zodíaco, mas fracassaram. E assim os casos permaneceriam sem solução até Gary começar a investigar quem era o seu pai.

O livro é rico em detalhes e traça um perfil do assassino desdo o início da família Van Best, passando pela infância solitária de Van, a ida da família ao Japão no início da Segunda Guerra Mundial, as traições constante da mãe que manchavam a reputação do pastor metodista, a separação dos pais, a entrada para a universidade, até a viagem para Londres onde, supostamente, tudo começou. Um homem extremamente inteligente, mas que deixou ser levado pelo ressentimento e orgulho, e deixou que o mal tomasse conta do seu coração e dominasse suas atitudes. Vale a pena cada página, que contextualiza outros acontecimentos da mesma época, desde Charles Manson até LaVey, o criador da igreja satânica dos EUA – que era frequentada pelo assassino do Zodíaco algumas vezes. Gary L. Stewart é um homem admirável e a sua história surpreendente e emocionante. 

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