Pular para o conteúdo principal

Quem pensa diferente de mim é elitista




Hoje, dizer que não gosta de determinado gênero literário, é ser elitista. Tem que aceitar tudo, achar belo, o ápice da literatura brasileira. Uma geração que cresceu hipersensibilizada, onde um “não gosto desse livro” é motivo para textos gigantes e até exclusão do círculo virtual de amizades. É uma afronta pensar diferente, expor sua opinião. “Se não gosta, fica calado”, são as resposta de seis a cada dez leitores da atualidade. Mas bem, como assim ficar calado? Esse espaço foi criado exatamente para escrever sobre os livros que li, se gostei ou não. E como vou ficar calado? Se alguém pede uma opinião sobre determinado livro é melhor mentir do que falar a verdade? É nesse ambiente hipersensível que os novos leitores estão surgindo. Alguns deles leem livros de youtubers, essa nova mania excêntrica do mercado editorial para faturar. E eles não estão errados, afinal, precisam pagar as contas todo fim de mês. 

O errado é achar esses livros o suprassumo da literatura contemporânea brasileira. Dizer que esses livros são perda de tempo, jogar dinheiro no lixo, é ser preconceituoso. Por que, santo Deus, as pessoas têm a mania de criticar tudo? Porque elas querem criticar, é o direito delas. Assim como as pessoas que me diz que sou elitista também têm o direito de expor sua opinião. Esse debate é até saudável, pois leva a uma discussão sobre o que é boa literatura e o que não é. Mas debater isso é um sinal de “elitismo”. Dizer que um livro da Kéfera é péssimo, é ser preconceituoso. Afirmar que um livro erótico é banal, fútil e insignificante é ser elitista e puritano, quando não coisa pior (na cabeça brilhante desses leitores).


Os leitores que estamos formando hoje saberão fazer a distinção entre o que é belo e o que não é? Saberão tirar dos livros lições para a sua vida? Não foram os clássicos que ajudaram a construir nossa civilização? E não são eles que ainda continuam atualíssimos e importantes para a nossa formação intelectual e moral? O que esperar de uma geração de leitores que só leem histórias temporais, fúteis e até inúteis? Será que estaremos formando futuros escritores célebres que deixarão para a próxima geração obras de vital importância, que serão atemporais, portanto clássicos? Aceitar tudo como bom e de qualidade é optar pela ignorância e covardia. Se não temos coragem de dizer algo negativo sobre um livro, com medo de ser mal interpretado pelos outros, como lidaremos com situações semelhantes no nosso dia a dia? Seremos dissimulados e falsos? Realmente vale a pena relativizar tudo para, no fim, percebermos o quanto estávamos equivocados?


É verdade que existe a alta literatura, aquela de ótima qualidade, que nos ensinam lições que colocaremos em prática na nossa vida. O dever da literatura, em minha opinião, é iluminar a escuridão da nossa alma e nos ensinar algo sobre a vida. Os livros que lemos serão responsáveis por uma pequena, mas importante, parcela do nosso caráter. E não podemos negar que a literatura ruim é a mais que vende, pois é mais fácil de ser compreendida. Não exige nada, nem aquele estado de reflexão profunda é capaz de proporcionar aos seus leitores. Autores viram best-sellers com histórias fáceis, mas depois de um ou dois anos caem no esquecimento. Quem aqui não se lembra do sucesso 50 tons de cinzaNão se apega não e etc? Eu não lembro o nome das autoras, assim como todos devem não se lembrar. Só os bons resistirão ao teste do tempo, e o tempo é o perfeito juiz. O livro mais vendido de 2016 se tornará um clássico? Só o tempo poderá responder.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leia o conto "O Gato Preto", de Edgar Allan Poe

Não espero nem peço que acreditem nesta narrativa ao mesmo tempo estranha e despretensiosa que estou a ponto de escrever. Seria realmente doido se esperasse, neste caso em que até mesmo meus sentidos rejeitaram a própria evidência. Todavia, não sou louco e certamente não sonhei o que vou narrar. Mas amanhã morrerei e quero hoje aliviar minha alma. Meu propósito imediato é o de colocar diante do mundo, simplesmente, sucintamente e sem comentários, uma série de eventos nada mais do que domésticos. Através de suas consequências, esses acontecimentos me terrificaram, torturaram e destruíram. Entretanto, não tentarei explicá- los nem justificá-los. Para mim significaram apenas Horror, para muitos parecerão menos terríveis do que góticos ou grotescos. Mais tarde, talvez, algum intelecto surgirá para reduzir minhas fantasmagorias a lugares-comuns – alguma inteligência mais calma, mais lógica, muito menos excitável que a minha; e esta perceberá, nas circunstâncias que descrevo com espanto

O Cavalo e seu Menino, de C. S. Lewis

O terceiro livro de As Crônicas de Nárnia em ordem cronológica, O Cavalo e seu Menino, narra a história de duas crianças fugindo em dois cavalos falantes. Shasta vive em uma aldeia de pescadores e vive como se fosse um empregado do seu pai ‘adotivo’, Arriche. Quando um tarcãa chega à aldeia e pede para se hospedar na casa de Arriche, este aceita sem hesitar. Com um hóspede nobre, o pescador coloca Shasta para dormir no estábulo junto com o burro de carga, tendo como comida apenas um naco de pão. Arriche não era um pai afetivo, acho que ele nem se considerava pai do menino. Via mesmo ali uma oportunidade de ganhar mais dinheiro, e quando o tarcãa oferece uma quantia por Shasta, ele ver que pode arrancar um bom dinheiro com a venda do menino e assim começam a barganhar um preço pelo garoto. Ao ouvir que o seu ‘pai’ iria lhe vender, o menino decide fugir e ir para o Norte — era o seu grande sonho conhecer o Norte. Ao se dirigir ao cavalo, e sem esperar nada, desejar que o animal fa

Três ratos cegos e outros contos, Resenha do Livro

Três ratos cegos Três ratos cegos Veja como eles correm Veja como eles correm Correm atrás da mulher do sitiante Que seus rabinhos cortou com um trinchante Quem terá tido visão tão chocante Como três ratos cegos . Três ratos cegos e outros contos é a mais importante compilação de contos da literatura policial. Agatha Christie escreveu a história que  deu origem a peça teatral mais encenada de todos os tempos 1 . Nesse livro, que traz nove contos maravilhosos, Agatha escreve com maestria as histórias mais incríveis para todos os amantes da literatura policial. O primeiro conto, Três ratos cegos, traz um intrigante caso de assassinato em série. Giles e   Molly se casaram recentemente e se mudaram para o casarão da falecida tia de Molly. Com uma ideia de transformar a enorme casa em hospedaria, ela convence Giles e os dois agora são donos de uma Hospedaria.