Pedro teve um pai que
deixou marcas profundas em sua alma. A relação de pai e filho nunca foi normal
para ele. Antônio Carlos era um homem bruto, egoísta e sem responsabilidade
alguma. Tratava o filho como se fosse um colega de bar. Bar. O pai de Pedro bebia
muito e a cada dia que se passava, aprofundava-se mais e mais no álcool. Mais
um adjetivo negativo para Antônio Carlos: bêbado. Os capítulos são alternados
em primeira e terceira pessoa, um relembrando o passado e o outro narrando o
presente. A leitura é rápida e prazerosa, faze-nos sentir um sentimento de ira
contra o pai sem noção e de compaixão pelo filho traumatizado. Perguntamo-nos:
que pai é esse? Pedro nunca teve o amor do pai, e Antônio Carlos nunca teve o
amor do filho.
Pensou no quanto mudou nesses anos todos. Era outro. Já havia sido vários outros. Uma vez ingênuo demais, outra vez inconsequente demais, medroso demais, apaixonado demais, iludido demais, bicho-grilo demais. Por vezes, tentou se autocorrigir, mas não é tão fácil assim.
★★★★ |
Já no presente, Pedro está
namorando e escuta de Aline algo que o deixa apavorado: ela está esperando um
bebê. Ele surta, pergunta se ela estava brincando ou se queria ferrar com a
vida dele. Ela, abismada, com toda a razão, sente-se decepcionada ao ver o
Pedro que ainda não conhecia. É o resultado de esconder um passado doloroso
para quem você ama, acaba se doando pela metade e quando uma situação como essa
acontece, o outro fica perplexo: não acredito que você está dizendo isso. Ele
tenta convencer a namorada a abortar. Tirar a vida de um ser que ainda nem veio
a existir. De um filho que não teria o seu amor e nem o seu abraço. Coisa que
Pedro também nunca teve por parte do pai. A história se repetia e o título do
livro se explica aí mesmo.
Sem perceber, Pedro é o
Antônio Carlos com outra personalidade e de outra época. Não é viciado, mas é
insensível. Assim como o pai brigava com as mulheres que se relacionava, agora
o filho estava brigando com a namorada por um filho que ainda não nascera. O
passado deixou marcas em Pedro e seu ódio pelo pai acabou transformando-o, em
um grau inferior, um pai sem qualquer sentimento pelo filho.
Belo, trágico, chocante
e real. Quem nunca conheceu alguém que não se dá bem com o pai? Quem nunca
ouviu histórias parecidas com a de Pedro? “Os abraços perdidos” é um daqueles
romances que te pega de jeito e te faz repensar em algumas coisas. Um livro
curto mas intenso.
Comentários
Postar um comentário