Essa história daria um
livro: você vai à delegacia e descobre, após ter uma briga com funcionários de
um restaurante, que está morto. Foi exatamente isso o que aconteceu com o J. P.
Cuenca. Decidiu transformar essa morte em um livro e filme, e o
resultado é a história em busca de um sentido existencial, onde a morte é a
principal protagonista. Atrás da mulher que havia encontrado o corpo com o seu
nome e assinado o atestado de óbito, Cuenca entra em uma investigação para
descobrir quem é essa mulher. E nessa busca, ele
descreve um Rio de Janeiro como nunca pensávamos, denunciando suas mazelas e
injustiças, a ambição de políticos e empreiteiras e a futilidade de uma classe
artística e jornalística, que tentam dar às suas vidas um real sentido de felicidade,
todas elas superficiais.
Dar sentido à vida é um dos maiores anseios do Cuenca-personagem-autor nessa ficção autobiográfica, que mistura a realidade com a ficção e a loucura. Sabemos que o nosso sistema é movido à dinheiro, mas o real problema não é um sistema capitalista, mas sim os homens que fazem do dinheiro uma espécie de deus. E assim vivem, reverenciando e idolatrando aquele que irá jogá-lo em um abismo profundo, e quando se dão conta do abismo no qual se jogaram, correm enlouquecidamente atrás de algo que o salve de uma vida vazia. A morte ainda continua sendo um tabu, pois quase todos pensam que são deuses e que seus corpos corrompidos nunca irão apodrecer debaixo da terra. A urgência de ter é mais importante do que a de ser.
Dar sentido à vida é um dos maiores anseios do Cuenca-personagem-autor nessa ficção autobiográfica, que mistura a realidade com a ficção e a loucura. Sabemos que o nosso sistema é movido à dinheiro, mas o real problema não é um sistema capitalista, mas sim os homens que fazem do dinheiro uma espécie de deus. E assim vivem, reverenciando e idolatrando aquele que irá jogá-lo em um abismo profundo, e quando se dão conta do abismo no qual se jogaram, correm enlouquecidamente atrás de algo que o salve de uma vida vazia. A morte ainda continua sendo um tabu, pois quase todos pensam que são deuses e que seus corpos corrompidos nunca irão apodrecer debaixo da terra. A urgência de ter é mais importante do que a de ser.
★★★★ |
“(...) a euforia e o autofascínio do carioca nos anos de 2010 eram insuportáveis; a Lapa revitalizada e iluminada era um ninho irrespirável de turistas, estupidez e obscuridade; e qualquer mesa ocupada por artistas cariocas era de uma vulgaridade torturante, com o desfile usual de pensamentos limitados – cheios de fórmulas e receitas, curvados aos fortes, às ideias vencedoras e antigas, ao patrimonialismo e à sede por dinheiro – emitidos por dois grupos principais: os que tinham recibos com o dinheiro do governo grampeados na testa e os que tinham recibos de emissora de TV, do jornal do mesmo grupo dos seus anunciantes grampeados na testa.” (pp. 48-49)
Descobri
que estava morto ainda traz algumas reflexões e observações
inquietantes sobre o mundo da escrita. Um livro sobre a morte e a vida, que
mistura um sentimento de repulsa e compreensão, alegria e tristeza, que faz o
leitor dar um sorriso para no próximo parágrafo ser surpreendido por uma
observação que talvez lhe afete. Lançado em nova edição pelo selo Tusquets, J.
P. Cuenca surpreende por não dar ao leitor fórmulas fáceis e uma história
fácil, e deixá-lo naquele estado de inquietação durante e depois da leitura.
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