“Todo mundo mente. Não confie em ninguém.”
David Sarac é um homem
que perdeu a memória em um acidente de carro. O pouco que sabemos sobre o
personagem é aquilo que o narrador vai contando ao longo da narrativa. Aqui, a
perda da memória seria uma benção ou maldição? Para Sarac, talvez uma benção.
Aos poucos ele vai recuperando a memória e se lembrando do que ele é e o que
faz. Trabalha para a polícia recrutando pessoas para serem informantes.
Entregar grupos criminosos, dá informações sobre algo relacionado ao tráfico de
drogas, entregar nomes de homens poderosos da cena do crime na Suécia. Ao
sofrer uma batida em um túnel e quase morrer, Sarac começa uma jornada em busca
do seu verdadeiro eu e de uma informação que está deixando todo mundo com muita
curiosidade... Jano.
As histórias de
Natalie, Atif e Jesper são paralelas à de Sarac e, como em um quebra-cabeça,
elas vão se juntando até estarem relacionados uns com os outros. La Monte narra
essas histórias sem perder o ritmo veloz que todo bom thriller pede e, de forma
bem engenhosa, como numa série de TV, vai costurando a vida dessas quatro
personagens até atingir o ápice, aonde todos chega ao mesmo lugar. Menos uma.
Para saber, só lendo o livro.
★★★★ |
Viver sem memória é
ruim. Viver sem saber em quem confiar é péssimo. De repente, aquele que queria
lhe ajudar acaba mentindo para você ou até mesmo se aproveitando da situação
para manipulá-lo, com o objetivo de se auto beneficiar. Amigos? Será realmente
que temos amigos? No mundo fictício de La Monte, os amigos estarão sempre em
suspeita. Os policiais? Também. O Ministro da Justiça? Idem. La Monte constrói
um mundo onde o egoísmo é a prioridade. Se promover, ganhar dinheiro, ter a
ficha limpa... Quem mais deveria se importar com os outros? Mas ainda assim,
nesse mundo de desconfiança, ainda há traços de afeição e sacrifícios.
Sacrifícios por aqueles que não conhecemos direito. E uma das personagens se
pergunta exatamente isso. Por que estaria fazendo isso – arriscando a própria
vida por um estranho? Sempre há luz, nem que seja uma pequena chama, em meio à
escuridão.
Escuridão essa que
esconde os piores sentimentos e ações de um ser humano. Poder a qualquer preço.
Dinheiro acima de tudo. Eu acima de todos. Afinal, quem irá salvar a mim senão
eu mesmo? Mas nada é previsível. E são gestos inesperados de pessoas que se
mostraram tão insensíveis que deixa as personagens com aquela culpa dentro de
si, pois sempre esperariam o pior dos outros e não o melhor. Sarac se vê em um
labirinto onde procura a si mesmo e aqueles que deveriam ser os seus amigos,
mas só encontra ilusão. A cada nova memória descoberta, a desconfiança aumenta.
Não confie em ninguém. Mas Sarac acaba confiando em uma mulher estranha e que
também não era confiável. Natalie, Atif e Sarac talvez precisassem se cruzar
para se encontrar. Ou não, cada um vai entender conforme aquilo que achar o
mais adequado. Essa foi a minha leitura e a minha compreensão. “Memorandom”
talvez seja isso, tentar trazer à memória as coisas boas e descartar as más.
Tentar ressuscitar o homem bom e enterrar o mau. Tentar confiar nas pessoas ao
invés de desconfiar de todos. Porque uma vida de desconfiança é uma vida
solitária que estará sempre em um labirinto tentando encontrar algo que dê
sentido para isso tudo aqui.
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