Junto com o professor Rousseau – ateu, egoísta e não menos complexo – e a bela Cecília, uma mulher que desperta nos homens aquele sentimento de deslumbramento, formam um trio – triângulo amoroso, se assim posso dizer – que nos conduz por uma aventura empolgante, com direito à caça ao tesouro e acontecimentos dignos de um filme. Diria que a ilha também é uma protagonista, pois ela está lá, com o céu nublado e as chuvas grossas típicas do inverno, além do mar cor de chumbo e ondas devastadoras.
Ela que deveria acolher um homem que está a procura da paz e do Transcendente, acaba por envolvê-lo em situações embaraçosas e humilhantes – como alguém que, contrariando sua vontade, se voluntaria a salvar uma garota que está afogando-se e é salvo pela mesma? Florian é um homem inquieto, mas também covarde. Mas há algo que faz o leitor gostar dele, mesmo com esses defeitos. E quem não tem defeitos?
Os diálogos sobre as
questões espirituais são um bálsamo para a alma que está passando pelos
invernos da ilha. Dom Clemente e Dom Fernando são homens de fé nos quais
gostaríamos de ter um minuto a sós para conversarmos sobre aquilo que nos
aflige – independente de confissão de fé ou religião. São homens sábios que
deixa a todos boquiabertos, inclusive o Dr. Florian. São esses diálogos e a
figura desses dois personagens que deixa acessa a esperança da primavera
chegar. E o leitor é brindado com outra história dentro da história, um
paralelo do passado com o futuro que acabam se encontrando na busca do tesouro
que o corsário holandês Olivier van Noort escondeu na ilha, e é esse o segredo e a mola
que fazem o trio Florian-Rousseau-Cecília planejar essa aventura pela ilha. Mas
onde estaria esse tesouro? Como chegar lá? E o poema de Olivier van Noort registrado em
seu diário que dá a pista:
A glória que brilha do Bom Jesus,
onde começa o céu ao dom do
inverno,
o Olho tem a tarde às chamas, o
eterno
assim faz convertida a noite em
luz.
E revelado o caminho da Cruz,
venha-me a noite, o véu negro me
queira,
ali ficará sempre e derradeira
a glória que brilha do Bom Jesus.
★★★★ |
Os invernos da ilha fazem isso. Esse mar imenso arrebentando, carrancudo, e nós aqui, tão pequenos. Mas depois passa. Logo chega a primavera e tudo passa, o senhor vai ver. Passa logo. (pg. 242)
Tudo passa. E o que eu
não daria para ler mais algumas páginas?
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