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O Olho do Mundo e a eterna luta do bem contra o mal


O primeiro livro da série A Roda do Tempo, de Robert Jordan, retrata a já conhecida luta do bem contra o mal. Considerado como o sucessor de J. R. R. Tolkien, Jordan faz jus a esse ‘título’. A fantasia medieval de O Olho do Mundo magnífica, e remete ao mundo criado pelo mestre da fantasia, embora com muitas diferenças. Campo de Emond é um vilarejo distante das grandes cidades, e lá moram Rand All’Thor, Mat e Perrin, três garotos que são os protagonistas, em certo sentido, desse primeiro livro. Vale ressaltar que, ao apresentar três possibilidades para ‘o escolhido’, o autor deixa os leitores livres para imaginar qual dos três é o Dragão Renascido, um libertador que derrotaria o inimigo da Luz, Shai’tan, ou Tenebroso.

Moirane Sedai está em Campo de Emond em busca dos três jovens ta’veren, para poder os proteger da ameaça das Sombras. Trollocs, criaturas com corpos humanos e cabeças de animais, a maioria cabeças de lobos, e os Desvanecidos, homens das Sombras que não possuem rostos, estão em busca do Dragão Renascido para levá-lo a presença do Tenebroso. Campo de Emond é atacado por Trollocs, e assim os três jovens, juntamente com Moirane e Lan, o Guardião, começam a longa jornada, correndo contra o tempo, à Tar Valon, cidade das Aes Sedai. 

O papel que as mulheres têm em O Olho do Mundo, é de poder e autoridade. Não há nada de machista, como li certa vez em algum lugar. Vale lembrar que o período em que a trama se passa, é o período medieval, portanto não há como discutir essas questões ideológicas com falsas acusações de machismo e essas brigas tolas. 

As Sombras ameaçam o mundo e em toda parte a mácula do Tenebroso se espalha. Os personagens se agarram na esperança que depositam no Criador e na Luz, e fazem orações para que o Inimigo do mundo não seja liberto de sua prisão. Rand, assim como Mat e Perrin, sentem que há um peso em seus ombros, pois a ideia de um deles ser aquele de quem o Tenebroso teme e o quer derrotar, faz com que tenham pesadelos. E é nesses pesadelos que Ba’alzamon os visita, toda noite, pedindo para que eles se entreguem e se curvem diante dele. Mas, apesar de todo o poder que Shai’tan possui, ele ainda não sabe quem é o Dragão Renascido. De acordo com as profecias, o Dragão renascerá na hora de maior necessidade da humanidade para salvar o mundo. 



Até chegarem ao Olho do Mundo, onde a luta será travada entre o Dragão e o Tenebroso, o grupo de Campo de Emond — Ewgene e Nynaeve se juntam ao grupo — junto com Moirane e Lan, passam por diversas dificuldades, e as reviravoltas ou twist, são maravilhosas. Cada um dos três rapazes de Campo de Emond cresce ao longo da trama, e descobrem coisas surpreendentes. Mas como não só de aventura vive as fantasias, há também sutis romances entre os personagens, nada que atrapalhe a fluidez da narrativa ou se torne inverossímil.

A eterna luta do bem contra o mal é fielmente retratada aqui. Disso tiro algumas conclusões, que não podem significar nada para alguns de vocês. Sabemos que desde que o mundo é mundo, existe essa luta no universo, e mesmo dentro de nós. A luta interior, do lado bom que habita em mim contra o mau, está evidente nos diálogos e lutas interiores entre os personagens principais. Podemos concluir que a Luz, a qual todos pedem proteção, se trata de uma religião benéfica, que traz esperanças ao povo em meio às dificuldades em que o mundo está passando. A Sombra, antítese da Luz, é uma religião maculada, que busca o poder acima de tudo, e almeja a expansão da sua crença no suposto Senhor do Mundo, o Shai’tan; e se for possível fazer uma guerra, matar pessoas inocentes para que as pessoas o sirvam, seus servos farão — Trollocs, Desvanecidos, Amigos das Trevas, e várias outras criaturas que servem ao Tenebroso. Não posso deixar de associar alguns diálogos como analogias, principalmente quando o Tenebroso pede para os garotos se ajoelharem, o adorarem, pois ele lhes dará todos os reinos da terra. A questão da fé também é bastante presente. Lan chega a pedir que se façam rezas para que não seja o fim, e algum outro personagem pede para que não percam a fé. A Roda do Tempo gira, e talvez isso signifique o fim de uma era, mas a fé que as pessoas depositam na Luz e no Criador, talvez mova a Roda, que tece o Padrão, para que não aconteça mais uma ruptura no mundo.

O sistema de magia provém da Fonte Verdadeira, uma força motriz do universo, que faz girar a Roda do Tempo. Essa força é dividida em uma metade masculina, saidin, e outra feminina, saidar, que trabalham simultaneamente com e contra a outra. As Aes Sedai mulheres são as únicas que podem canalizar o Poder Único, e para isso passam por um longo treinamento em Tar Valon. Não existem mais Aes Sedai homens, pois os últimos que canalizaram esse poder enlouqueceram de forma terrível. Saidin foi maculado pelo Tenebroso, o que causou a morte de todos Aes Sedai.

Por diversas vezes me vi prendendo a respiração durante a leitura. Apesar de ser complexo e extenso, a narrativa não se tornou uma única vez cansativa. O livro tem lá suas oitocentas páginas, e olha que é o primeiro de doze... Só posso esperar uma leitura ainda mais profunda e de tirar o fôlego no segundo livro. Mal espero para ver como aquele personagem está lidando com aquela descoberta — que para mim não foi surpresa — e por mais uma aventura maravilhosa com o guia Robert Jordan. 

Comentários

  1. Acho que houve uma confusão com o "percursor"...

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  2. A FÉ HUMANA E A DIVINA

    No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade.
    Até ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o Cristo a exalçou como poderosa alavanca e porque o têm considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis?
    A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendures que se não chegue a vencer.
    O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.
    Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar ao que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. Um Espírito Protetor.(Paris, l863.)

    KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB. Capítulo 19. Item 12.
    FORMATAÇÃO E PESQUISA: MILTER - 06.11.2016

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  3. A FÉ HUMANA E A DIVINA

    No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade.
    Até ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o Cristo a exalçou como poderosa alavanca e porque o têm considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis?
    A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendures que se não chegue a vencer.
    O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.
    Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar ao que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. Um Espírito Protetor.(Paris, l863.)

    KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB. Capítulo 19. Item 12.
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