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Os melhores livros lidos em 2015


Mais um ano que se passa, e junto com ele, nos lembramos de nossas melhores leituras. Em 2015, o saldo de leituras foi em torno de trinta e cinco a quarenta livros lidos, dentre esses, selecionei os dez melhores. É a primeira vez que ouso fazer uma lista dessas, mas segue os melhores livros — na minha nada humilde opinião — que tive o prazer de ler. Lembrando que não há ordem, pois se fosse para escolher o primeiro lugar, o segundo e adiante, seria uma tarefa laboriosa para esse pobre mortal que vos escreve.


Rebentar, de Rafael Gallo (Record)

Uma narrativa leve e ágil, cheio de tensões e de esperanças. Afinal, uma mãe que perde o filho tem a possibilidade de viver uma vida normal? Nesse livro, Ângela, a mãe de Felipe que está desaparecido há três décadas, vê que o tempo passou e que tudo ao seu redor também mudou. Menos Ângela. Incansável, esperançosa — e, até certo modo, culpada pelo desaparecimento do filho. Cheia de medos, dúvidas e esperanças, Ângela tenta dar um encerramento à sua eterna procura pelo filho que pensava ser um superherói. Instigante, emocionante e original — nunca se viu um romance brasileiro tratar sobre o tema de um filho desaparecido — Rebentar é um drama bem construído.

Kingmaker: Uma Jornada no Inverno, de Toby Clements (Rocco)

Toby Clements me deixou empolgado do começo ao fim, conquistou-me com Katherine e Thomas, pessoas comuns que sofrem pela ambição de poder dos nobres, e que são os mais afetados nos campos de batalha. Uma trama bem costurada, escrita leve, detalhista, a narrativa flui facilmente, os personagens são cativantes. Todos que aparecem nesse primeiro livro são autênticos e originais – uns causam apatia, outros empatia até demais. Somos envolvidos em seus dilemas, em suas perdas.

O Sol é para todos, Harper Lee (Jose Olympio)

Scout é uma menina de temperamento forte, uma menina nada delicada. Usa calça e macacão, o que deixa a tia Alexandra indignada, pois quer que a sobrinha seja uma dama. O romance se passa na década de 30, em uma sociedade americana ainda racista. Em Maycomb, os negros não são tratados como gente. Mas sim como "inferiores". A cidade não gostou nada de um branco defender um negro, estaria traindo os seus iguais. Mas Atticus não pensa assim, e é isso o que ele passa para os filhos, numa tentativa deles não pegarem essa doença que os adultos tinham. Doença essa que até hoje persiste, infelizmente. Conforme o dia do julgamento vai chegando, a história vai se aprofundando e nos envolvendo de tal maneira, que, parece que estamos lá, em Maycomb, ao lado de Scout, vendo tudo. Harper Lee nos arrebata para dentro do livro, nos expõem à dura realidade da época, e à injustiça que os negros sofriam. Eles tinham o seu próprio bairro, separado dos brancos. Só serviam para fazer o trabalho duro. Eram vistos como animais sem modos, como bichos selvagens que ameaçavam a civilidade.

Gataca, de Franck Thilliez (Intrínseca)

Uma trama policial e científica, que nos leva a refletir sobre como o DNA pode influenciar determinada pessoa ou cultura a ser violenta. O que liga o assassinato de Clara, de Éva Louts (a cientista jovem encontrada morta no centro de primatologia), e um genocídio de uma família Neandertal trinta mil anos atrás? Conforme o desenrolar da história, mais crimes são descobertos, como uma teia de aranha, e todos eles estão interligados a três pessoas e a genomas. Thilliez nos dá uma aula sobre a Evolução nesse livro. Os crimes não são só coincidências, há algo muito além disso. Os canhotos, que são mais raros hoje em dia, tem tendências a ser violentos. A Seleção Natural explica isso. Para quebrar toda essa tensão de crimes bárbaros, os quais são minimamente detalhados (o que me deu vontade de vomitar), há um romance entre Sharko e Lucie. Nada meloso, mas muito turbulento. E sem esquecer que, o Amazonas é crucial para desvendar todos esses crimes e essa nuvem de mistério envolvendo GATACA.

O Segredo das Runas — A Escolha de uma Valquíria, de Caio Rodrigues Alves (Chiado Editora)

A Escolha de uma Valquíria conta a história de Arthenis, buscando respostas e um sentido antes do Ragnarok. Ela era uma mortal de Midgard, mas Odin a escolheu para ser uma Valquíria e posteriormente a transformando em líder das Valquírias. Uma personagem forte, decidida. O autor criou várias personagens mulheres com fortes personalidades, o que me deixou surpreso. Sempre li romances em que seu enredo girava em torno de um personagem homem, mostrando todas as suas qualidades e defeitos, mas sempre o colocando em lugar de destaque. Aqui, o lugar de destaque vai para as mulheres. O deus Odin pouco aparece na trama, seus diálogos são curtos, mas a sombra dele está lá, poderosa como um Aesir é.

20 Contos de Truman Capote, de Truman Capote (Companhia das Letras)

Os primeiros contos são sobre a alta sociedade americana, que Capote sempre reverenciou e a mesma retribuiu com adoração, e os últimos são um retrato de sua infância, que podemos notar traços nostálgicos sobre um período duro, mas feliz, da vida de Capote. Surpreendido pela narrativa e pela sensibilidade de observação, os contos são maravilhosos. “O Jarro de Prata” conta a história de um menino pobre que, entrando em um estabelecimento, viu um jarro cheio de pratas, e se dispôs a adivinhar quantas moedas tinha lá dentro. Dia após dia, o menino ia à drugstore para observar o jarro de prata. No dia em que anunciou ao dono do estabelecimento que já sabia quantas moedas tinha ali dentro, um evento foi marcado e todos da cidade estavam presentes para saber se o garoto acertaria o número exato de moedas que havia ali dentro do jarro. O fim do conto é surpreendente. Já “Miriam”, conto que ficou muito conhecido na época, é sobre uma mulher que certa noite abre a porta para uma garotinha, que também se chamava Miriam. Nesse conto, podemos nos maravilhar com a genialidade de Capote para o gênero horror. Mas, o que me fez chorar, foi “Memória de Natal”.

Este Mundo Tenebroso, de Frank Peretti (Editora Vida)

Em Este Mundo Tenebroso, a cidade de Ashton está sendo alvo de um grande plano. Forças malignas querem tomar a cidade para si no reino espiritual, e uma sociedade secreta, a Sociedade da Percepção Universal, quer que a calma cidade americana seja mais uma de suas propriedades. Frank Peretti conduz a história de forma muito fluida, sem fazer o leitor se perder na narrativa. Ora, temos aqui duas ações: a física e a espiritual. No plano físico, Hank Busche, um homem de oração, sente que algo está acontecendo com a sua cidade. Por ser uma pedra de tropeço, Alf Brummel, o delegado de Ashton e membro da igreja onde Hank pastoreia, faz de tudo para que o temente homem de Deus seja expulso do cargo e da cidade. Já Marshal Hogan, um jornalista que comprou o Clarim, um pequeno jornal de Ashton, descobre muitas coisas que não eram para serem descobertas. Os dois são alvos de Alexander M. Kaseph, dono da Omni S/A e a mente usada pelo Valente para pôr o plano em ação e tomar de uma vez por todas a cidade de Ashton. No plano espiritual, demônios inferiores estão preparando a cidadezinha para a chegada do príncipe da Babilônia, Baal Rafar. E há Tal, um anjo muito poderoso que vai fazer que todo o plano do Senhor dê certo, e que mais uma vez Baal seja derrotado e mandado de uma vez por todas para o abismo.

O Último Reino, de Bernard Cornwell (Record)

De um lado um exército que tem como deus o Deus cristão, do outro, os nórdicos que tem como deuses Tor e Odin. É sarcástico como Cornwell narra esse assunto de religião, isso vemos por causa de Uhtred, que acha mais interessante morrer e ir pro Valhalla, fornicar e lutar, ao invés de ir para o céu, onde ele diz que é muito sem-graça. Esse romance histórico é muito bem desenvolvido, principalmente pelos detalhes sobre a vida de Alfredo, O Grande, que era um rei acometido por uma doença chamada Crohn, que causa dores abdominais agudas, e de hemorroidas crônicas. Alfredo é o último rei que ainda está de pé na Inglaterra, e vai lutar pelo último reino, Wessex, ser vitorioso e assim não permitir que o território inglês desapareça de vez.
Além das batalhas muito bem narradas, com suas paredes de escudos e o derramamento de sangue, Cornwell traz também os detalhes sobre como o povo daquela época viveu. E são detalhes tão bem explicados, que fica à altura das cenas de batalhas.
 É incrível ver como o autor desenvolve a história, que claro, tem um pano de fundo histórico real, mas certos personagens e situações são fictícias, mas que parecem tão reais, que quando terminamos a leitura do livro queremos insanamente dar continuidade e ler as próximas crônicas.

Uma Praça em Antuérpia, de Luize Valente (Record)

Um romance histórico emocionante! Fiquei sem fôlego com todos os detalhes sobre aquela guerra que dizimou milhões de vidas, a miudeza dos detalhes, a emoção que nos é transmitida pelos personagens. A construção de uma personagem aparentemente frágil, mas que se mostra muito forte, uma mulher guerreira, por passar tantas coisas que passou e ainda permanecer de pé, e ao mesmo tempo sem deixar de ser cativante e e dotada de sentimentos também me surpreendeu. Foram momentos de angústia pelos judeus e todos aqueles que sofreram, aflição com a fuga dos Zuskinder que parecia não ter fim, raiva por existir pessoas tão cruéis como Hitler, que com sua mente doentia espalhou o câncer nazista. Nunca li um romance tão bem escrito como este, não sei se pelo fato de ser histórico, já que amo história, ou pelo simples fato de Luize Valente ser uma incrível escritora, retratando toda a sua humanidade, sua essência... 

Que fim levou Juliana Klein?, de Marcos Peres (Record)

Em Que fim levou Juliana Klein?, as coisas tendem para a 'não-conclusão'. Irineu se envolve com Juliana Klein, tem afeto pela filha, e é jurado por vingança pelo marido traído. Investiga as alunas de Franz Koch ilegalmente, pois pensa que o professor é o mandante dos crimes contra os Klein. Afinal, essa briga teve início lá em Frankfurt e se arrastou para solo Curitibano. Por mais que tente encaixar as peças, ainda fica faltando uma que o tira do foco. Irineu de Freitas é um personagem muito bem construído, com forte personalidade e, digamos assim, mulherengo (dissera Juliana). Deixa que seu envolvimento com Juliana atrapalhe o seu lado profissional, mas, ele é o único que pode desvendar que fim levou Juliana Klein e luta por isso até o fim, mesmo quando é afastado, alvo de um processo administrativo, e tem o seu caso com a esposa de um assassino divulgado pela mídia e etc.  O desfecho dessa história intrigante, que ganha um ar de thriller, é surpreendente e me deixou com várias dúvidas. Sim, um bom livro é aquele que lhe deixa com mais dúvidas do que respostas.


Comentários

  1. Tem Cornwell, a lista tá aprovada. hauhauhuah

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    Respostas
    1. haha ele tinha que figurar na lista, foi um dos autores que me surpreenderam esse ano. abraços!

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