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Rebentar, de Rafael Gallo


Esse livro rebentou comigo (desculpem-me pelo trocadilho infame). Uma narrativa leve e ágil, cheio de tensões e de esperanças. Afinal, uma mãe que perde o filho tem a possibilidade de viver uma vida normal? Nesse livro, Ângela, a mãe de Felipe que está desaparecido há três décadas, vê que o tempo passou e que tudo ao seu redor também mudou. Menos Ângela. Incansável, esperançosa — e, até certo modo, culpada pelo desaparecimento do filho. Cheia de medos, dúvidas e esperanças, Ângela tenta dar um encerramento à sua eterna procura pelo filho que pensava ser um superherói. Instigante, emocionante e original — nunca se viu um romance brasileiro tratar sobre o tema de um filho desaparecido — Rebentar é um drama bem construído.

“Um filho desaparecido é um filho que morre todos os dias. Nem mesmo nas mitologias mais cruéis há tragédia equivalente; essa dor nenhum deus teve de suportar. Cada noite que cai desaba sobre os pais com o peso renovado da notícia: você perdeu sua criança e ela está em algum lugar nessa escuridão afora, desprotegida de seu lar.” (p.26)

Felipe desapareceu por um simples segundo. Eles estavam em uma galeria quando Ângela, que tinha algumas fotos para revelar, pedira ao filho que a esperasse em uma loja de brinquedos. Esse foi o último momento de mãe e filho e que reverbera na mente da mãe que se culpa pelo o que aconteceu. Agora, depois de trinta anos, ela vê a possibilidade de um encerramento da sua busca pelo filho tão amado. É extremamente mais difícil do que ela imaginava. Sua renúncia soaria como uma derrota? Será que ela teria forças para tal ato? E o seu filho? Será que ele a questionaria por tê-lo abandonado e encerrado a sua busca? São essas dúvidas que torna a decisão de Ângela difícil: dar um encerramento a tudo isso ou não? Ora, se o seu filho ainda estivesse vivo — pois nem disso ela tem certeza — ele agora estaria com mais de trinta anos e seria totalmente diferente daquele Felipe de trinta anos atrás.


Ainda estou um pouco "rebentado" pelo o que li. Outro assunto retratado no livro é o tempo — que sempre está presente pelo tique-taque do relógio na cozinha de Ângela e Otávio. O tempo passou para Ângela, o tempo levou o seu filho para longe de si, o tempo rebentou com a sua vida e da sua família, o tempo trouxe alegria e tristeza, o tempo rebenta a nossa vida. Não podemos congelar o tempo só por nossa causa — seja por uma perda, uma morte ou uma doença. O tempo não pára, a vida não pára. Mesmo que tudo seja difícil — como foi para Ângela, seu marido e sua família — o tempo não parou. E junto com o tempo, devemos dá continuidade à nossa vida. Sabe aquele ditado que o tempo é o melhor remédio? Então, é isso mesmo. Mas esse remédio não tem um gosto doce, mas sim amargo. Cada livro que leio da Record, me encanta cada vez mais. Não há o que questionar, o Grupo Editorial Record é o melhor grupo editorial do Brasil. Finalizando, a todos que apreciam uma história profunda e rica em sentimentos e detalhes, leia Rebentar, de Rafael Gallo.

Comentários

  1. Gostei bastante da resenha, e fiquei curiosa pela história!

    beijos,

    http://sweetlikecaramel.blogspot.com.br

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