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O Vilarejo, de Raphael Montes


Em “O Vilarejo”, Raphael Montes é um tradutor que recebeu cadernos ilustrados de Elfrida Pimminstoffer por meio de Maurício Gouveia, sócio do sebo Baratos da Ribeiro, no Rio de Janeiro. No prefácio do livro, Raphael explica sobre esses cadernos e como chegaram em suas mãos. Logo assim que comecei a leitura, pensei que se tratava de uma história real, pois criar um personagem com o próprio nome — no caso do autor — explicita certa veracidade aos escritos. Na parte inferior de uma dos cadernos estava escrito o nome do padre, teólogo e demonologista Peter Binsfeld. O padre associou os sete pecados capitais a sete demônios, os Sete Reis do Inferno. E conforme essa classificação, os textos dos cadernos tem como título o nome dos sete demônios. São sete contos classificados da seguinte ordem: Belzebu(gula), Leviathan (inveja), Lúcifer (soberba), Asmodeus (luxúria), Belphegor (preguiça), Mammon (ganância), e Satan (ira).


Cada conto explora um desses pecados capitais. O Vilarejo sofre com o inverno e com a Guerra — possivelmente a II Guerra Mundial. Os moradores do vilarejo tem sua maldade e crueldade  potencializada pelas circunstâncias em que se encontram. Fome, frio, pobreza, são três das diversas causas que levam os personagens a atitudes repugnantes. Mas tudo isso está ligado a outro personagem, que está presente em todos os contos, mas de uma forma distanciada. Os personagens são humanos propensos aos pecados da carne que os levam a se entregar sem nenhuma reação ou resistência. Estão tão cansados da situação em que vivem; tão afastados da Capital civilizada, tão propensos a atos tão cruéis e demoníacos...

“O pecado nos mata, meu caro Anatole. Não importa quanto tempo seja preciso. O pecado nos mata.”
O estilo da narrativa é fix-up, ou seja, são histórias passadas em um mesmo lugar — o vilarejo — e que se interligam. Nesse tipo de gênero, não há personagem principal. Em cada conto um personagem desse universo nos é apresentado, e nos próximos contos, vários outros, de maneira que cada conto está amarrado uns aos outros. Também não há uma ordem definitiva de leitura, você pode começar lendo o conto Leviathan, depois Mammon, como você quiser, pois não faz diferença alguma. Personagens de um conto são vistos em outros, e no final, tudo se encaixa, como um quebra-cabeça. O desfecho da trama, que vai se encaixando, é surpreendente. As ilustrações do Marcelo Damm são belíssimas. Atendeu todas as minhas expectativas e me deixou curioso para ler mais livros do Raphael Montes. 

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