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O Segredo das Runas - A Escolha de Uma Valquíria | Resenha

"Caio Rodrigues Alves precisa ser reconhecido entre os nossos leitores, não porque é um autor parceiro, mas porque ele passa seus sentimentos através de sua escrita."

O Segredo das Runas – A Escolha de uma Valquíria narra a história de Sophie, uma médica do exército, que faz de tudo para que sua irmã, Claire, não vá para a guerra. Depois do ataque de 11 de Setembro, o governo americano iniciou uma campanha militar antiterrorista, e Claire, que fazia parte das Forças Aéreas do exército americano, embarcaria em breve para o Oriente Médio onde iniciaria uma guerra contra os terroristas. A preocupação de Sophie é que a irmã seja morta nessa viagem, assim deixando um filho órfão. Ela tenta de todas as maneiras fazer com que a irmã desista de viajar. Ela argumenta o falso moralismo do governo americano, criando um clima de terror onde não existia. O autor faz duras críticas em relação às guerras promovidas pelos EUA, que na sua grande maioria, não se passava de pura ambição e poder. Mas nada disso fazia com que Claire desistisse, o seu nacionalismo falava mais alto. Se fosse pra morrer, que morresse como uma heroína defendendo o país. Sophie então visita o tio, que tem uma livraria, e pede a ele um conselho. Mas, ao invés disso, ele lhe dá um livro chamado “A Escolha de uma Valquíria”, dizendo que ali ela encontrará as repostas da qual precisava. Ela não entende muito, mas mesmo assim agradece e começa a ler o livro.


A Escolha de uma Valquíria conta a história de Arthenis, buscando respostas e um sentido antes do Ragnarok. Ela era uma mortal de Midgard, mas Odin a escolheu para ser uma Valquíria e posteriormente a transformando em líder das Valquírias. Uma personagem forte, decidida. O autor criou várias personagens mulheres com fortes personalidades, o que me deixou surpreso. Sempre li romances em que seu enredo girava em torno de um personagem homem, mostrando todas as suas qualidades e defeitos, mas sempre o colocando em lugar de destaque. Aqui, o lugar de destaque vai para as mulheres. O deus Odin pouco aparece na trama, seus diálogos são curtos, mas a sombra dele está lá, poderosa como um Aesir é. Conhecemos mais o Valhalla, o palácio destinado aos guerreiros mais corajosos e cruéis, onde eles treinavam todos os dias para o profético Ragnarok, e depois transavam, comiam e bebiam. E assim sucessivamente. Em meio a tantas banalidades, Arthenis sente um vazio. Fica inquieta, procura respostas pelas quais ninguém poderia lhe responder. Até ela escolher em um campo de batalha Albrecht, um ótimo guerreiro. Mas ele não quer ir ao Valhalla, sua ambição não é passar os restos dos dias se preparando para lutar por um deus bárbaro. Seu objetivo é encontrar a sua amada Iris, que está no Helheim, o reino da deusa Hel, para onde os mortos sem glória iam. O amor de Albrecht, a sua loucura desafiando Odin, a sua determinação faz com que Arthenis fique mais confusa ainda. Desde a chegada de Albrecht, com todas aquelas conversas de amor, Arthenis fica decidida a ir à busca de respostas para as suas perguntas. Aí começa a aventura de uma Valquíria, enfrentando tudo e todos para dar um sentido à sua existência. Percebe que Odin é só mais um deus que se alegra no sofrimento alheio. Um dia, quando ela estava na sua habitual tarefa de escolher homens valentes para o Valhalla, ela conhece Lif. Uma criança que perdeu seus pais após um ataque à vila onde moravam. Contrariando sua promessa de não impedir o destino de um homem vivo, se compadece da criança e a protege. O que traz graves consequências. A forte Arthenis, insensível e tudo o mais, começa a dar vazão a sentimentos amorosos, começa a entender o que é o amor. E decide lutar por isso. Lif, a criança, é ensinado pela Valquíria, após muita insistência por parte do garoto, a se defender. Lif cresce, e se torna um bom guerreiro. Os dois vivem aventuras perigosas por entre os Nove Mundos até o fatídico dia do Ragnarok chegar.

A narrativa é fluída, a escrita do Caio Rodrigues é muito boa, e a estrutura do texto também é muito bom. Apesar de alguns erros de revisão, sucintos, mas que me incomodou um pouco, o livro se fez uma grande descoberta para mim. Nunca li um livro nacional, ambientado em outro país, com a mitologia nórdica sendo o tema principal, tão detalhado e verdadeiro. Gostaria que o autor falasse mais sobre o Brasil. A impressão que tive foi de ter nas mãos um livro de literatura estrangeira. Os personagens são bem construídos, originais, e com características próprias. O amor é uma das mensagens que o livro nos passa, mostrando que todas essas guerras são motivadas pela falta de amor, e que aqueles que lutam, luta por amor: seja ele pela pátria, pela família, ou por qualquer outro motivo. Eis o paradoxo da guerra.

“(...) Um guerreiro pode trajar os melhores equipamentos, empunhar a mais poderosa arma e deter as mais formidáveis habilidades... Um dia, ele cairá. Porém, o guerreiro que detiver uma verdadeira razão para lutar... sua vontade jamais permitirá que seu corpo de curve a lâmina do inimigo (...).” (p. 299)


A história de Arthenis nada difere da de Sophie. Ambas estão buscando respostas e lutando por alguém que amam muito. O final do livro é surpreendente, muito bem finalizado. São mais de 400 páginas de pura aventura, tensão e diversão. Caio Rodrigues Alves precisa ser reconhecido entre os nossos leitores, não porque é um autor parceiro, mas porque ele passa seus sentimentos através de sua escrita. O Segredo das Runas – A Escolha de uma Valquíria é leitura nacional obrigatória para os amantes da mitologia nórdica. E garanto que não irão se decepcionar, pois Thor, Loki, Freya, Odin, Mimir e todos os outros deuses e criaturas nórdicas estão presente dentro da trama. O fato de escrever um livro dentro do livro, mostra que Caio veio para ficar. São poucos que conseguem fazer isso sem se perder.


Comentários

  1. Parece ser um livro bem interessante, é uma boa ideia aproveitar o gancho dos atentados de 11 e o medo do irmão ir pra guerra pra falar de Mitologia Nórdica. Sobre a questão de um livro nacional ser ambientado em outro país e falar de uma mitologia estrangeira, eu não vejo problema, a Literatura é universal e transcende fronteiras.

    Gostei muito da resenha. Um abraço

    Alessandro Bruno
    www.rascunhocomcafe.com

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    Respostas
    1. Obrigado, Alessandro! O livro é muito bom mesmo. Abraços!

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