Eu, você e todos os
leitores já passaram pela mesma situação. Lembro que, toda vez que uma leitura
não me agradava, culpava o autor, a trama e tudo o que você possa imaginar por
ter me decepcionado. A verdade é que nós não abandonamos um livro, como
pensávamos, mas sim o livro que nos abandona. Se você vai concordar comigo?
Bem, eu não sei. Mas acredito que seja isso que acontece de fato. Por quê?
Vamos lá. Para se escrever um livro, atividade essa que conheço muito bem,
exige muito esforço da parte do autor. Sim, escrever não é essas mil maravilhas
que falam por aí. Não. Exige autodisciplina, suor, paciência, horas e horas
parado em frente à tela do computador, vendo o documento em branco. Isso deixa
qualquer escritor angustiado, impaciente. Paciência. Escrever é um continuo ato
de paciência, ou não. Há quem não concorde. Mas por que estou falando isso?
Para explicar que o livro que aquele escritor escreveu, ou ainda irá escrever,
é destinado para um tipo de leitor todo especial. Uns escrevem para
adolescentes melancólicos, outros para jovens que gostam de aventura, outros
para as garotas que gostam de um romance água-com-açúcar e etc.
E é por simplesmente
entender isso que cheguei a essa conclusão. O livro me abandona quando percebe
que eu, o leitor que o está lendo, não é o alvo da sua história. E aí achamos
chato, nonsense, infantil, tosco e vários outros adjetivos negativos. Assim
como um livro nos escolhe para lê-lo, e ganha nas primeiras páginas nossa total
atenção. Quando um livro nos abandona, desista. Não vá em frente. Feche-o,
guarde-o, ou doe-o. Possa ser que ele lhe escolha meses, anos ou décadas
depois? Pode. Claro. Conforme o tempo passa, vamos alargando nosso horizonte e
a possibilidade de encarar novos mundos. Aí aquele livro que te abandonou anos
atrás, aquele que você falou mal do autor, fez críticas ácidas, te escolhe e
não há como fugir. Mas isso não acontece com todos os tipos de livros, por
exemplo. Um livro sobre uma funcionária que se torna uma escrava sexual do seu
chefe não irá te escolher após a primeira não escolha. Mas aí posso estar
fazendo aquilo que expliquei nas primeiras linhas. A autora quando o escreveu,
não pensou num leitor que acha livros hot uma baboseira, que gosta de Dostoiévski,
de ler não-ficção, romance-drama e etc. É claro que ela não pensou em mim, como
leitor, quando escreveu sua história. Só estou dando um exemplo objetivo, não
que eu tenha feito algum esforço para lê-lo. Ela pensou no leitor que gosta de
aventuras sexuais, ou de ler coisas do tipo. Desculpem, mas realmente não
imagino como descrever esse tipo de leitor — não quero ofender, muito menos
rebaixar alguém por seus gostos literários. Mas para não ser injusto, e
parcial, há livros que costumo ler, como romances (por favor, leia romance como um gênero em geral),
fantasia e não-ficção que não é um tipo de história que me agrada. Não é o tipo
de livro que me escolheu para ser seu leitor. Por exemplo, Machado de Assis.
Não consigo ler suas obras, suas obras ainda não me escolheram. Possa ser que
em alguns anos venha a lê-los? Pode. Aí ele terá me escolhido e o lerei com
prazer. Mas nesse momento, abril de 2016, seus livros não me escolheram. Fazer
o que, paciência!
Para finalizar, ainda
há aqueles livros que nos escolhem mas que, mesmo assim, deixa-nos
decepcionados. São aqueles livros que dá para levar a leitura adiante, há certo
prazer em lê-lo, mas que acaba pregando uma peça na gente. É o tipo de livro
traiçoeiro, meu amigo.
Texto sensacional!
ResponderExcluirObrigado, Gisele!
ExcluirBom, analisando suas palavras, me tirou um peso enorme das costa, pois eu imaginava estar abandonado os livros que não conseguia prosseguir com a leitura. Um deles, posso até receber críticas por isso, foi O Pequeno Príncipe. Fui com tanta sede sobre o livro que me decepcionei, ouvi tanta gente falar bem, jovens, á não mais crianças e adultos, mas por fim, não passei da segunda página. Achei bobo demais! Agora um livro que me envolveu completamente foi A Cabana e todos de Lu Mounier.
ResponderExcluirOlá, Fabricio! A Cabana foi um dos melhores livros que já li. Lu Mounier eu não conheço, mas é basicamente isso: é o livro que nos abandona, meu caro. Abraços!
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