Para
comemorar o 129° aniversário do poeta pernambucano Manuel Carneiro de Sousa
Bandeira Filho, mais conhecido como Manuel
Bandeira, o blog irá trazer 10 poemas mais marcantes (para o autor do
blog). Bandeira nasceu em 19 de abril na cidade do Recife, e foi um dos maiores
representantes da produção literária do estado. Abordando temáticas cotidianas
e universais, foi o mais lírico dos poetas. Quem nunca estudou sobre a Semana
da Arte Moderna de 1922 no ensino médio e deus algumas risadas com o poema Os Sapos? Deixando de
conversa, vamos ao que interessa.
Arte de Amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar & agraves mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
— Não quero saber do lirismo que não é libertação.
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar & agraves mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
— Não quero saber do lirismo que não é libertação.
Os Sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…
O Último Poema
Assim eu quereria o meu último poema.
Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos
intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais
límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Minha Grande Ternura
Minha grande ternura
Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.
Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.
Minha grande ternura
Pelos poemas que não consegui realizar.
Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.
Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo.
Madrigal Melancólica
O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é a vida!
Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do
corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto
do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das
águas.
A meu Pai doente
Para onde fores, Pai, para onde fores,
Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas.
Tu, para amenizar as dores tuas, Eu, para amenizar as
minhas dores!
Que cousa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!
Magoaram-te, meu Pai?!
Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!
— Seria a mão de Deus?!
Mas Deus enfim, é bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!
Hey, tudo bom?
ResponderExcluirCara, nem sou muito fã de poesias, nunca me interessou sabe porem tenho amigos que amam e acabam me fazendo ler alguma poesia de vez em quando. Das q vc selecionou, gostei bastante da Arte de Amar. O Ultimo Poema e Teresa. Viu, pra quem não curte até que curti bastante né rsss
Manoel Bandeira é sensacional e mesmo não gostando, preciso reconhecer que suas obras nos dá uma força para ajudar a encarar a vida :)
Bjooo
Oiiii, Tudo bem?
ResponderExcluirNossa! Que lindoooo. Voltei no tempo com alguns dos poemas. Coisa mais linda, reler Manoel Bandeira.
"Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei"
recitei na escola muitos anos atrás. Direto do túnel do tempo. Rs. Adorei o post, foi muito bom relembrar, e também serviu para criar vergonha na cara e procurar voltar a ler Bandeira. <3
beijoooo!
http://livrosfilmeseencantos.blogspot.com.br/
Manuel Bandeira é um dos melhores. O Bicho, conheci quando fazia oitava séria, me agarrei ao poema e nunca mais larguei, sempre tão contextual, né? Manuel baila com as palavras e derrama humanismo; profundo, sincero e divertido, como em Tereza, nossa adorava ler Tereza... ria, na época, apesar de pouco entender. Hoje, sei bem o que ele diz com Tereza, porém, sempre ao ler, lembro da época em que eu ria de Tereza...
ResponderExcluirQue postagem magnífica; espero encontrar mais por aqui! Você é de que lugar do Nordeste? Vou indicar seu blog no Poesia na alma!
Abraços!
http://www.poesianaalma.com.br/
Olá Lilian! Moro em Pernambuco, terra de Manuel Bandeira! Obrigado pela indicação, beijos!
ExcluirQue poeta!! Amo demais alguns dos poemas poemas que colocaste aí. "Poética", "O bicho" e "vou-me Embora pra pasárgada" são poemas que sempre relembro em minha jornada. Manuel bandeira tem uma poesia limpa, leve e ao mesmo tempo pesada. Nos leva das confusões às soluções em segundos. Gosto demais!
ResponderExcluirAbraço!
www.pensamentosvalemouro.com.br
Conheço muito de Mauel Bandeira por causa das minhas aulas de literatura na escolha, mas nunca me apeguei muito ao trabalho dele como autor. São poemas muito bonitos.
ResponderExcluirhttp://laoliphant.com.br/
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirNão sou fã nem um pouco de poesia. Muita gente fala que o poeta tem muita alma e que o seu pensamento transcende a realidade, então se é assim, eu sou desalmado e estou com os pés no chão pois eu nunca consigo entender o que o autor quer dizer. Manoel é sim um dos nomes mais consagrados da literatura nacional, mas confesso que como não sou fã de clássicos, acabo por não ler muito esse tipo de obra. Gostei do poema O Último Poema, apesar de ainda estar tentando entender parte dele HAHAHA
Abraços,
Matheus Braga
Vida de Leitor - http://vidadeleitor.blogspot.com.br/
Oi oi, como vai?
ResponderExcluirPreciso ser sincera e dizer que não sou muito fã de poesias, mas elas tem um grande lugar na nossa literatura.
E mesmo não gostando muito e nem conhecendo muito, conheço (quem não conhece na verdade) Manuel Bandeira e ele sem sombra de dúvidas é um ícone.
Não conhecia todas essas poesias (na verdade só conhecia duas) e adorei conhecer, lindas!
Beijos!
Oi Allenylson!
ResponderExcluirParabéns pelo post, adorei essa homenagem ao incrível Bandeira!
"Vou-me embora para Pasárgada" é um clássico e um dos meus preferidos.
Gosto também de "Poética", um manifesto modernista contra as regras e métricas da poesia romântica, muito focada na forma.
Viva a liberdade poética! :)
Beijos,
Fernanda
www.oprazerdaliteratura.com.br